“O médico do futuro não prescreverá medicamentos, mas despertará o interesse do paciente pelo cuidado do corpo humano, pela dieta e pela causa e prevenção das doenças”. Thomas Edinson
No início da próxima semana determinadas regiões do nosso país passarão a contar com serviços específicos de saúde integrados em centros dedicados diretamente à questão da obesidade.
Segundo o último inquérito nacional de saúde em Portugal recolhido em 2019, mais de metade da população (4,6 milhões) com 18 ou mais anos (53,6%) tinha excesso de peso (36.6%) ou obesidade (17%), ou seja, um índice de massa corporal (IMC) de 25 ou mais kg/m2 – e quando comparada com a última década, é significativa a tendência gradual a cada ano que passa para aumentar tais percentagens.
Podemos mesmo dizer que soam as campainhas, não ao longe, infelizmente, mas bem de perto, quando a própria ONU prevê que no futuro Portugal terá 39% de pessoas obesas. E, naturalmente, como consequência, o aumento dos custos significativos nos cuidados de saúde.
Traços gerais, tal fenómeno afeta não apenas a nível físico e psicológico de forma contínua a pessoa que acarreta tal problema, mas também é considerável o grande e igual “peso” que provoca nas economias dos diversos países.
E, para agravar tal cenário, a comorbilidade que o excesso de peso e a obesidade apresentam com outros problemas de saúde, reforçam ainda mais os recursos monetários necessários para a prevenção e intervenção, de forma a manter o nível de qualidade de vida satisfatório.
Sendo um tema atual, tal problemática não é recente. Já desde o transato ano de 1997 que a obesidade passou a ser classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como epidemia global.
Dados apontaram que no ano de 2022 (OMS) – mais de mil milhões de pessoas no mundo eram obesas – 650 milhões de adultos, 340 milhões de adolescentes e 39 milhões de crianças. Esse número continua a aumentar. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, até 2025, aproximadamente 167 milhões de pessoas – adultos e crianças – ficarão menos saudáveis por estarem acima do peso ou obesas.
Aqui chegados, coloca-se a seguinte questão: de que modo podemos caminhar para a prevenção do excesso de peso e minimizar o seu impacto na economia?
Nesse contexto, podíamos começar logo pela intervenção médica, ou seja, pela cirurgia bariátrica enquanto técnica indicada para o tratamento da obesidade em nível crítico e quando associada à presença de comorbidades.
Mas o caminho é mais profundo e tais abordagens para enfrentar tal fenómeno devem ser multifacetadas e multidisciplinares.
Por exemplo, para proteger e prevenir esta crescente preocupação de saúde pública, é crucial promover hábitos alimentares saudáveis. Campanhas e programas de educação públicos para a nutrição e enfatizar a importância de uma dieta equilibrada e a relevância da atividade física para a saúde física e mental.
Ao nível institucional, também as entidades governativas e as associações são decisivas na criação e promoção de espaços seguros e acessíveis para tais práticas, bem como por um maior apoio aos programas de intervenção.
Ao mesmo tempo, a redução do comportamento sedentário é vital. Com as novas tecnologias e o investimento que Portugal tem para o desenvolvimento tecnológico da educação torna-se difícil limitar o tempo de ecrã, especialmente entre crianças e adolescentes, e incentivar à movimentação.
Para diminuir o encargo financeiro desta problemática na saúde pública, os investimentos na prevenção são primordiais.
Alocar recursos para programas de prevenção e iniciativas que promovam estilos de vida mais saudáveis pode resultar em poupanças a longo prazo ao reduzir os gastos com cuidados de saúde.
Podemos pensar que é pouco, mas aqui a visão deve ser positiva, e grandes mudanças constroem-se com pequenos detalhes.
Detalhes esses que devem sim, ser até considerados obrigações de todas as pessoas que compõem uma sociedade. Aliás, dizia Machado de Assis que “a vida é cheia de obrigações que a gente cumpre, por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente”.
A título de exemplo, políticas como aquelas já utilizadas ao colocar impostos sobre bebidas açucaradas e alimentos pouco saudáveis podem desencorajar o consumo destes.
Bem como, incentivar programas de sustentabilidade, bem-estar organizacional e comunitário que apoiem estilos de vida mais saudáveis e sustentáveis, com custos acessíveis a toda uma população.
Como? É possível? Claro que sim, basta haver vontade das partes, ter uma visão estratégica holística enquanto modelo catalisador, motivante e destinado a ajudar não só um problema de saúde, mas também a qualidade de vida em geral e os custos existentes para travar tal combate!
* Este artigo teve a colaboração de Catarina Pignatelli – (Psicóloga e Investigadora) e Suzana Medeiros – (Escritora e Jurista)
Advogado, Psicólogo e Investigador Universitário