A manhã estava fria e serena, o vento que normalmente se faz sentir nas zonas ribeirinhas fez-se ausente e o rio calmo, era um espelho de água, um convite à contemplação. Os barcos de pesca com as cicatrizes de anos do vai e vem de uma miríade de marés, repousam ancorados às velhas estruturas de madeira, prontos para mais uma jornada de trabalho. O cenário idílico e fonte de inspiração, sensibilizou o fotografo e todos os que passavam naquela amanhã domingueira. A luz, matéria prima da fotografia gorava quaisquer resultados imediatos, aceitáveis.
Neste ensaio de quatro imagens, João Lobato, num estilo muito próprio que carateriza a sua abordagem estética, algures entre o abstrato e o surrealismo, explorou uma narrativa que, espelha-se numa manhã completamente nublada as estruturas “paleolíticas” do cais com as suas “catedrais” em madeira, num registo atraente ao olhar, inédito, num ambiente em que se confunde o céu com a água, num irrealismo harmonioso e mágico, onde crescem do leito do rio fortalezas e muralhas mediáveis.
Local de grande plasticidade a qualquer hora do dia, ou altura do ano, possibilitando múltiplas abordagens fotográficas, a Carrasqueira é o último dos grandes “monumentos” palafíticos do país, a merecer pelas suas caraterísticas únicas um cuidado muito especial por parte das autoridades na sua preservação.
Texto de Carlo Ribeiro
João Lobato ( Biografia)
Natural de Viseu, nascido em 10 abril de 1972, João Lobato, engenheiro eletrotécnico de profissão, iniciou a sua atividade como fotografo amador em 1998. Apaixonado pelos desafios da luz, só fotografa a preto e branco, num registo muito íntimo, no qual privilegia uma abordagem inédita e muito pessoal tal como este ensaio de quatro imagens. O fotografo, ao longo dos anos acumulou um portfólio apreciável, onde está bem patente a sua evolução como observador do meio. Com esta reportagem dá início a uma colaboração mensal No Cidadão.
Engenheiro e Fotógrafo