Vivemos num mundo faz de conta. Ao longo de 40 anos usufrui de salários emocionais e isso faz-me sentir que nunca fui compensado, mas a culpa foi minha. Quem beneficiava com isso? Empreendedores, empresários e eu porque “enchia o ego”… menos o bolso.
Tudo passa e vamos aprendendo. Hoje, analiso os últimos 40 anos profissionais e confesso que, com 20 tinha outros planos, muitas ilusões, que mudaram aos 30 e que aos 40/50, começaram a ser difíceis de cumprir. O tempo teima em passar e sempre defendi que o valor das coisas não estava no tempo que duravam, mas na intensidade com que aconteciam. E aconteceram, na verdade e por isso, as opções, as escolhas de vida concederam-me momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis, pela vida.
No fundo, fui “levado” e aceitei propostas, que teimavam em voltar ao salário emocional de 1972. O turismo foi o mais beneficiado, confesso. Não me arrependi, até porque, quando parava, mais saudades sentia. Os tempos voltam, sempre, quando queremos e agora o assunto é a retenção de talento como motivo para pensarem no salário emocional.
Amigos(as) não vão em cantigas pseudoliberais. É uma mentira! Atiram com formação, seguros de saúde, possibilidade de trabalho em horário flexível, teletrabalho entre outras, com benefícios financeiros, fora do recibo, mas que beneficiam os mesmos e não contam para o futuro. No imediato sabe bem, mas a médio/longo prazo vão perceber que é um engodo. Lá por casa, a minha filha Josefina, não se queixa, nem às refeições, muito menos, nos medicamentos obrigatórios/mensais que toma… que de emocionais, só mesmo o efeito que fazem, na sua qualidade de vida.
Aliás, este conceito assentou na Felicidade Interna Bruta (FIB) com origem no Butão, reinado no extremo leste dos Himalaias, no ano de 1972. Só como informação, o FIB servia ao rei do Butão para verificar o crescimento do seu país, tendo em conta dados não económicos e assentava num conjunto de conceitos ligados ao bem-estar do individuo. O salário emocional pode ser excelente, mas não servirá, quando vamos ao supermercado ou ao médico. Não aceitam como pagamento. A questão, em Portugal, é a falta de estrutura económica, política e até social, que de emocional não tem nada.
A falta de € na carteira das pessoas pode contribuir para o FIB e melhorar o seu estado emocional, doutra forma, esqueçam. Os únicos que não fazem greve neste país são os políticos ligados a Administração Central e Local.
Já pensaram numa manifestação de CEO’s de empresas publicas, ou mesmo de Vereadores das Câmaras Municipais…com viatura, motorista e alguns gastos para restaurantes médios?
Emocional, tem algumas questões que os portugueses vão ter de pensar a medio/longo prazo: o salário médio será sempre emocional, se o aumento de produção e a riqueza não acontecerem; se o Estado não baixar os impostos; e já agora, se não baixarem os níveis de corrupção.
O Estado só se paga… se tiver receitas/impostos. A minha preocupação, é que este “tabu” seja atirado em forma de “boomerang” para confundir os mais incautos fazendo crer que é a tabua de salvação do país para reter talento, quando na verdade, serve como “engodo”, de forma a fazer esquecer o país real. Ex: um jovem “talento” com salario real de 1.500,00€/mês + benefícios emocionais (seguro, ginásio, formação, etc). Neste caso, já é um jovem com sorte quando surge uma empresa a pagar: salário + benefícios – contribuições – impostos para o Estado… mas depois decresce na – habitação – alimentação – diversos = no final, pouco deve sobrar. Este mesmo jovem licenciado, de certeza que fará contas para um salário real, não esquecendo o mercado da habitação em Portugal. 99% das empresas e microempresas familiares, em Portugal, estão atoladas em impostos, taxas e taxinhas que nenhum Governo de esquerda e/ou direita consegue resolver, porque a opção é “engordar o Estado, com os boys” que sustentam os partidos.
Basta ir ao DR. Não acredito que as empresas consigam suportar mais regalias, do que um simples salário. Este é o cenário formal da questão. Entendo que falar do salário emocional num país pobre, onde todos os anos “mendigam” aumentos de salário mínimo – remuneração base que é entendida para sobreviver – é desviar a atenção do essencial na discussão publica. Não devem aceitar discutir o salário emocional, sem previamente negociarem o salário real, que paga, verdadeiramente, as contas ao fim do mês. É ridículo e pobre, trazer à discussão o salário emocional, num país, com uma economia pouco moderna e com uma sociedade pouco evoluída, com salários mínimos de 870€ e salários médios de 1200€ e ainda, com discrepâncias salariais nos políticos dependentes do Estado.
Aliás, a Autoridade Tributária tem números interessantes: “2,3 milhões de agregados não pagam IRS ou seja + de 40% dos portugueses ativos estão isentos de imposto sobre o rendimento do trabalho dependente pela simples razão de auferirem rendimentos baixos.”. O país real é este. Hoje, quando for ao supermercado vou tentar pagar o peixe, a carne, os legumes com um largo sorriso no rosto, dizendo “muito obrigado e até à próxima”.

Docente na Atlântico Business School/Doutorado em Ciências da Informação/ Autor do livro ” Governação e Smart Cities”