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Domingo, Outubro 13, 2024

O Natal já passou e agora, mudou alguma coisa? Onde é que nos perdemos!? – Por Rosa Fonseca

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Rosa Fonseca
Rosa Fonseca
Professora e Escritora

E foi Natal há uns dias. E a melancolia, a dor e a alegria, vão-se dissipando e tudo volta ao seu ritmo. Os momentos de fragilidades sentidos pela saudade de quem já não se senta à mesa e o caos que grassa pelo mundo, dão lugar a outros dias, aqueles que ficaram em suspenso nas luzes da cidade.

Voltamos então às ruas, às calçadas, às sombras que se avolumam contra as esquinas.
Vivemos de passos segmentados, adormecidos e sem caminho. Nada nos leva ao lugar, onde o corpo se enterneça e ganhe chão. Perdemo-nos no desfalecimento dos dias encurtados pelo silêncio e lágrimas acumuladas.


No Natal há um outro silêncio, umas outras lágrimas, diferentes do que nos impõem os dias.
Diante dos nossos olhos, toda a amargura e desencanto correm como um filme a preto e branco, onde vemos corpos arqueados e percebemos que somos atores nas mesmas cenas. Que a alegria da manhã prometida se esbateu. Tudo se vai perdendo ao longo de horas rasteadas, arrancadas a esta luta desenfreada entre a incompreensão e a intolerância e tantas outras coisas, que fazem murchar as nossas rosas. Desfazem-nos o estuário onde pernoitávamos o corpo.
É tanto o que nos finta os dias! Sentimos a vida dormente, sem paixão, entusiasmo e objetivos.


Quem nos engoliu os sonhos, em que terra os enterrámos!?
Receio que já não encontremos chão onde mexer os pés, alargar o passo ou deslizar por um sorriso pronto, capaz de segurar o tempo no seio e de apertá-lo, tornando-o casa. Como a casa numa noite de Natal.

Receio que vivamos apenas as sobras de uma quentura antiga.
É tanto o que nos turva os olhos, os dias e a vida.
Vivemos de um Silêncio alojado nos poros e de um alimento desnutrido. Tudo o que mata a esperança e o alento. Somos atraídos para as bermas de um mundo vazio e bolorento. Vivemos o desencanto e o desamor. As forças fracassam e o céu nunca se faz azul.

As luzes de Natal diluem-se…
E então já não é Natal.
Estamos de novo no centro dos dias entorpecidos. No turbilhão das cidades. No meio do silêncio que nos habita. Percorremos então, o caminho até um novo Natal.
Porque ninguém está preparado para ser natal todos os dias. Porque somos o intervalo entre um natal e outro.

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