Um amigo recordou hoje um texto meu pelo facto de passar um ano sobre a publicação que dele fiz no Facebook.
Já não me recordava de o ter escrito e publicado… li-o e considerei que podia republicá-lo (desta vez n’O Cidadão) por me parecer actual (indecorosamente actual, convenhamos!…).
Aqui vai ele, com a esperança de que os leitores d’O Cidadão lhe encontrem algum interesse:
Vivemos numa época em que o título desta crónica pretende ser a resenha da realidade, e a tais preceitos juntam-se mais estes: Putin, Trump e Bolsonaro são exemplos de pessoas bem comportadas.
Embora Putin tenha invadido o país vizinho, a culpa da invasão é da Ucrânia e da NATO, a destruição de zonas residenciais e a morte de civis inocentes não aconteceram, os cadáveres encontrados com as mãos amarradas nas costas não foram encontrados… e se alguém os viu é porque foram mortos pelos ucranianos ou se suicidaram antes de se auto-amarrarem, já que as tropas russas e os mercenários pagos por Putin estão ali em missão de paz, distribuindo beijos, abraços, flores e laranjadas, merecendo ser louvados e condecorados.
O presidente chinês foi convidado para mediar a paz entre a Rússia e a Ucrânia… ele aceitou o convite com um largo sorriso de contentamento e o mundo também ficou contentíssimo!… Xi Jinping nem se prepara para fazer a Taiwan o mesmo que Putin fez à Ucrânia!…
Trump e Bolsonaro são retratos de civismo e de bons governantes. Foram exemplares no tratamento do Covid eliminando a transmissão do vírus que enterravam bem fundo depois da população morrer às molhadas. Por isso têm quase metade dos norte-americanos e dos brasileiros a apoiá-los.
O tribunal dos EUA acabou de acusar Trump por quatro dezenas de crimes… mas da lista não consta o principal que o eliminaria da corrida às eleições presidenciais: a incitação dos seus apoiantes à invasão do Capitólio em 2021.
Bolsonaro repetiu a “prescrição” de Trump para os mesmos “sintomas de perda de eleições“, e também incitou à invasão do Congresso Nacional. Está em liberdade e feliz, sendo convidado de candidatos a ditadores para fazer propaganda dos seus ideais antidemocráticos (e, no seu entender, profundamente cristãos!) em Parlamentos estrangeiros.
No Ocidente tão “respeitador e democrático” queimam-se livros de Banda Desenhada do Tintin, do Astérix e do Lucky Luke (aconteceu no Canadá), alegadamente por incitarem ao ódio rácico!… Ódio e racismo que enche a cabeça dos censores, mas que nunca passou pela imaginação de Hergé, Goscinny e Uderzo, nem de Morris, seus autores.
A História é atacada nas figuras de relevo que a fazem, vandalizando-se estatuária representativa de personalidades que, em cada tempo e de acordo com a realidade social e política das épocas a que pertenceram, a escreveram.
Editores permitem-se censurar obras clássicas, como as histórias do Agente Secreto 007 – do escritor Ian Fleming – eliminando termos como “gordo” e “negro”, substituindo-os por “forte” e “homem de cor“!… E dizem que é por ser politicamente mais correcto… sendo que o politicamente correcto não é mais do que tentar pegar num pedaço de merda pelo lado limpo!
A Igreja Católica, que sempre se considerou exemplo de moralidade e politicamente correcta, obrigando as populações a esse reconhecimento auto-propagandeado, tem na sua História milenar exemplos de gritante imoralidade, perseguições e assassinatos, albergando pedófilos no seu seio.
Os Parlamentos Democráticos abrem a porta aos seus inimigos, permitindo acento a quem a ataca por dentro e propala ideais nazis e xenófobos, lançando a confusão no cérebro dos eleitores mais manipuláveis e fáceis de iludir.
De facto, este mundo não é redondo… é quadrado como as bestas que o comandam!…
Jornalista/Cartunista