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Quinta-feira, Novembro 7, 2024

O Holbein de Lisboa: Fonte de Vida e orgulho (Opinião)

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Por estes dias, decorre em Frankfurt, no Städel Museum, a grande exposição “Renascimento no Norte”, dedicada à produção artística dos Holbein, dos Burgkmair e de outros artistas da esfera de influência dos ricos e poderosos mecenas, os Fuggers. Depois a mostra há de ir ainda este ano para Viena para ser exibida no Kunsthistorisches Museum, o museu de Arte Antiga da capital austríaca.

A Fonte da Vida (1519), que integra a colecção do Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa (MNAA), é uma obra-prima de Hans Holbein que não viajou para Frankfurt, por empréstimo, certamente por ser um dos Tesouros Nacionais de Portugal, relativamente aos quais há, como é prudente esperar, severas restrições protectoras

Apesar disso, o admirável quadro do MNAA é reproduzido a página inteira e comentado no excelente catálogo que acompanha ambas as exposições, a de Frankfurt e a de Viena.
A Fonte da Vida (também designado descritivamente “A Virgem e o Menino entre santos e anjos, diante de um arco triunfal”) é um grande e maravilhoso óleo sobre madeira de carvalho, pintado por encomenda pelo “velho” Holbein, que o assinou, mas no qual se crê que o filho, Hans Holbein o “novo” tenha intervindo.

Antes de ir para o MNAA (1913), o quadro pertenceu à colecção do Eleitor da Baviera que foi saqueada e espoliada pelos suecos, no contexto da Guerra dos Trinta Anos. Herdou-o a controversa Rainha Cristina da Suécia, aquela que Greta Garbo recriou com sucesso no Cinema, possuidora de uma colecção de arte lendária e de excelência.

A Rainha Cristina ofereceu o quadro ao Rei de Portugal, D. João IV, não se sabe exactamente em que data e por que razões diplomáticas, e este presenteou-o a sua filha Catarina que o levou para Londres quando se tornou Rainha de Inglaterra. Felizmente trouxe-o com ela de volta para Lisboa quando enviuvou e regressou à Pátria.

A pintura ficou na Capela do Paço Real da Bemposta até ser redescoberta e identificada, em meados do século 19, pelo conde Raczynski, e ir então para o Paço das Necessidades, através do Rei D. Fernando II, grande apreciador e cultor de Arte. A permanência do quadro neste Palácio é referida pelo avô de Sophia de Mello Breyner Andresen, o 4 conde de Mafra, num dos seus diários, como peça famosa da Galeria de Pintura do Rei D. Carlos que tinha justo orgulho em o mostrar às visitas interessadas.

Mais de cento e cinquenta anos depois de ter sido mostrada por fotografia numa exposição retrospetiva de Holbein, em Dresden, A Fonte da Vida volta agora a poder ser vista por imagem na Alemanha (e no mundo), brilhando no catálogo desta exposição de Frankfurt/Viena como uma das últimas obras de Holbein, o Velho, e uma das mais representativas e importantes de todo o Renascimento alemão.

No comentário que acompanha a apresentação da obra no catálogo, Guido Messling, um dos dois editores responsáveis, considera que a localização do quadro em Portugal, país “remoto” do ponto de vista centro-europeu, constituiu um entrave duradouro ao conhecimento e estudo desta pintura por parte dos primeiros estudiosos da obra de Holbein, pintor ao qual, na actualidade, se devolve com plena justiça a grande importância, durante muito tempo ofuscada pela do filho.

Eu gostaria muito que nesta Europa do século 21 deixassem de persistir de todo expressões centro-europeístas deste tipo e que, por outro lado, mais portugueses conhecessem mais e melhor as suas colecções públicas de arte e, em particular, esta maravilhosa obra-prima do velho Holbein.

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