Hoje, o dia começou cedo para a Polícia de Segurança Pública e bem agitado na residência oficial do primeiro-ministro António Costa (Palácio de São Bento), nos paços perdidos da Assembleia da República, em todos os ministérios, secretarias de Estado e até na câmara Municipal de Sines.
A demissão que António Costa apresentou ao Presidente da República “deixou toda a gente com as calças na mão” e viveu-se um dia acelerado em Portugal. Num ápice acabaram os directos na Faixa de Gaza. Ninguém estava à espera que o primeiro-ministro optasse por demitir-se.
Agora é tempo de a Justiça provar que actos ilícitos praticou o primeiro-ministro. É que de processos e inquéritos estamos nós saturados. Haja coragem para criminalizar severamente todos os governantes (e não só!) que violaram as leis da República.
António Costa apresentou a demissão ao fim de quase oito anos em funções como primeiro-ministro, cargo para o qual foi empossado em 26 de novembro de 2015. Marcelo aceitou a sua demissão. A decisão surge na sequência da investigação de projectos de lítio e hidrogénio.
“Estava totalmente disposto a dedicar-me com energia a cumprir o mandato que os portugueses me confiaram até ao termo desta legislatura”, afirmou ainda. Contudo, pelas circunstâncias do dia de hoje, primeiro-ministro apresentou a demissão a Marcelo Rebelo de Sousa.
António Costa referiu que foi “surpreendido” com a investigação aberta. “Foi ou vai ser instaurado um processo-crime contra mim. Obviamente estou totalmente disponível para colaborar com a justiça em tudo o que entenda necessário para apurar a verdade seja sobre que matéria for”, apontou.
“Quero dizer, olhos nos olhos aos portugueses, que não me pesa na consciência a prática de qualquer ato ilícito, ou sequer de qualquer ato censurável”, afirmou António Costa.
PARTIDO SOCIAL DEMOCRATA
O presidente do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro, pensou que aparecer na abertura dos telejornais lhe dava uma maior projecção mediática, mas enganou-se. Esteve menos tempo em directo do que os seus opositores e fez uma intervenção que todos já ouviram.
O presidente do PSD defendeu a realização de eleições antecipadas, dizendo que “o Governo caiu por dentro” e que a degradação do executivo “impõe que não se perca mais tempo e se devolva a palavra ao povo”.
“Esta recuperação só é viável com eleições antecipadas, e estamos preparadas para elas”, disse Luís Montenegro.
PARTIDO SOCIALISTA
O presidente do PS afirmou hoje que os socialistas estão preparados para uma decisão do chefe de Estado de convocar eleições antecipadas ou optar por uma mudança da liderança do Governo, na sequência da demissão do primeiro-ministro.
Esta posição foi assumida por Carlos César horas depois de o primeiro-ministro ter anunciado que apresentou a sua demissão ao Presidente da República, já aceite por Marcelo Rebelo de Sousa, após o Ministério Público revelar que António Costa é alvo de investigação autónoma do Supremo Tribunal de Justiça sobre projetos de lítio e hidrogénio.
“O PS está preparado para qualquer cenário, seja eleições ou mudança de liderança do Governo”, declarou Carlos César, frisando que essa decisão compete ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tendo ao seu lado o secretário-geral adjunto, João Torres, e a ouvi-lo e na primeira fila da plateia membros da Comissão Permanente do PS.
INICIATIVA LIBERAL
“Creio que não há outra solução neste momento que não seja a dissolução [do parlamento] e eleições para que os portugueses possam pronunciar-se sobre a nova constituição da Assembleia da República e um novo Governo”, declarou Rui Rocha.
“Creio que não há outra solução neste momento que não seja a dissolução [do parlamento] e eleições para que os portugueses possam pronunciar-se sobre a nova constituição da Assembleia da República e um novo Governo”, declarou Rui Rocha.
Na opinião do líder da IL, “não havia nenhuma condição” para António Costa continuar em funções.
LIVRE
Em declarações aos jornalistas, o deputado único Rui Tavares admitiu a sua surpresa com todos os acontecimentos que hoje levaram o primeiro-ministro a anunciar a sua demissão, mas salientou que “não há nenhuma situação que o povo não possa gerir”.
“É sério que esta demissão tenha acontecido pelos motivos que sucedeu e acerca dos quais esperamos saber mais num futuro próximo”, afirmou.
Rui Tavares defendeu que também os partidos políticos devem “contribuir para ajudar a resolver a situação”, mas considerou que ainda se está “no tempo do Presidente da República”, que irá ouvir os partidos na quarta-feira e o Conselho de Estado no dia seguinte.
PAN
Inês de Sousa Real disse não querer o país a funcionar “em duodécimos” nem “com o PRR por executar” e apelou a “uma ponderação” por parte do Presidente da República.
Assinalando que está a decorrer no parlamento a discussão do Orçamento do Estado para o próximo ano, Inês de Sousa Real lamentou a existência de uma “crise política com esta dimensão”.
“Tem que haver um compromisso suprapartidário e um esforço de todas as forças políticas para chegarmos a um consenso. Este tem de ser um orçamento, se calhar pela primeira vez, que seja de facto da Assembleia da República, das várias forças políticas”, defendeu.
PCP
“Tal e qual como há um ano e meio atrás, do que nós precisamos é de soluções e não de eleições”, defendeu Paulo Raimundo em declarações aos jornalistas na sede nacional do PCP, em Lisboa, depois de ser conhecido o pedido de demissão do primeiro-ministro, António Costa.
O líder do PCP referiu, contudo, que o “Governo está profundamente fragilizado” e “não é possível continuar” no atual quadro político, acrescentando ainda que o executivo não estava a dar resposta aos problemas enfrentados pela população.
“O PCP relembra que estamos perante um Governo e uma maioria absoluta constituídos a partir do argumento da estabilidade e de uma operação de chantagem que contou com a colaboração do Presidente da República”, referiu.
BLOCO DE ESQUERDA
Mariana Mortágua falava aos jornalistas na sede do Bloco de Esquerda, em Lisboa, numa reação à demissão de hoje do primeiro-ministro, que foi aceite pelo Presidente da República.
A coordenadora do BE defendeu que novas eleições são a “saída para a crise política” que o país atravessa neste momento.
Mariana Mortágua considerou também que “é importante que a justiça seja célere” e “esclareça rapidamente as suspeitas levantadas”.
“O BE comunicará ao Presidente da República a sua preferência pela convocação de eleições antecipadas”, indicou a líder bloquista.
CHEGA
O presidente do Chega defendeu hoje que a marcação de eleições legislativas é o único cenário possível, na sequência da demissão do primeiro-ministro, e pediu ao Presidente da República que as convoque “o mais depressa possível”.
“Não há outro cenário possível que não seja a dissolução do parlamento e a convocação de eleições”, afirmou André Ventura, recusando a possibilidade de nomeação de um novo primeiro-ministro, sem eleições.
O presidente do Chega considerou que a nomeação de um novo primeiro-ministro que “não foi legitimado pelos portugueses” seria “uma fraude” e “uma grande traição” do Presidente da República “às suas palavras há dois anos”.
* Com o apoio de algumas agências de notícias e outros órgãos de comunicação social
Editor