É, com orgulho, que apresenta o seu nome – também a sua marca. Pretende, no futuro, ser cada vez mais uma referência agregadora do universo do erotismo em Portugal. “O Cidadão” (OC) ouviu Rui Simas (RS) explicar, de forma simples, um assunto que, para muitas pessoas, ainda é tabu.
O Cidadão (OC) – “Simas Cultura Erótica”, designação criativa, com algum suspense…
Rui Simas (RS) – Não sei a que nível interpreta o suspense, mas a intenção é clara. Pretendo dar a conhecer o lado exponencial da sexualidade através do erotismo. A cultura é tudo aquilo que se adquire, através da criatividade, da intelectualidade, da manifestação artística e do debate de ideias…
OC– O sexo como cultura, portanto…
RS– Sim, acredito que é possível criar uma cultura sexual, não apenas focada nas limitações dos atos físicos e na funcionalidade dos genitais.
OC– Como define a cultura erótica
RS– É tudo aquilo que contribui para um maior e melhor conhecimento dos nossos desejos físicos, intelectuais, espirituais, sensoriais e emocionais, para além do sexo. Costumo dizer que o erotismo é o que acontece antes, durante e depois do sexo.
OC– Às suas sessões podemos chamar-lhe tratamentos?
RS– Não lhes chamo isso. Acompanhamento ou desenvolvimento pessoal. É assim que as apelido. Se eu entender que são precisos tratamentos, recomendo profissionais de saúde mental ou física.
Prazer
Rui Simas faz parte da “Associação Sexualidades Positivas” e colabora com diversas marcas e empresas ligadas ao mercado adulto; porém, é sobre as pessoas que incide, em particular, a sua função.
OC- Rui Simas, podemos chamar-lhe mentor erótico?
RS– Considero-me mais consultor do que mentor. O que faço é aconselhar e informar as pessoas sobre as mais diversas possibilidades do universo erótico, seja através da partilha de conhecimentos, métodos e práticas ou, então, sugestões culturais e artísticas, num ambiente de segurança, compreensão, inclusão e descontração.
OC- Os seus clientes, o que mais necessitam?
RS– Esclarecimento, informação e estratégias para potenciar a sexualidade e melhorar os relacionamentos.
OC– Como decorrem as sessões? O que fazem?
RS– São sobretudo para conversar e partilhar ideias, mas incluem, muitas vezes, recursos audiovisuais ou materiais práticos.
OC- O que levou a associar a cultura ao conceito erótico?
RS– A vontade de distinguir o erotismo do simples ato sexual; em Portugal, erotismo e pornografia ainda estão muito relacionados, porque temos uma história recente onde a mais pequena insinuação sexual é considerada depravação ou imoralidade. Logo, considero importante dar a entender que, enquanto o sexo é um ato, limitado pelas condicionantes de cada um, o erotismo é toda a sexualidade do corpo e da mente e onde o limite é a nossa imaginação. Sem erotismo, o ato sexual pode tornar-se mecânico, rotineiro e funcional. Com o erotismo, o prazer sexual pode nem precisar de nenhum ato, porque o prazer pode estar em todo o lado.
OC-E a pornografia, como entra na equação?
RS– O erotismo abrange todo o espetro da sexualidade. A pornografia é apenas a representação da sexualidade de forma explícita. Desde os desenhos paleolíticos que existe vontade de representar e observar os atos sexuais com as mais diversas intenções. Na representação, a linha entre erótico e pornográfico foi sendo constantemente alterada, consoante as leis morais vigentes.
OC– Muito diferentes entre o “ontem” e o “hoje”.
RS– Sim, hoje temos uma pornografia muito diferente da que tínhamos há 40 anos; enquanto antes eram criadas histórias, enredos e produções cinematográficas, hoje, a tecnologia permite fazer e ver coisas de uma forma crua, imediata e baseada, apenas, em temáticas ou impulsos. No entanto, existe muita pornografia feita ao longo dos tempos que ajuda a compreender conceitos importantes, sejam fisiológicos ou psicológicos.
Portugal
OC– Que tipo de pessoas recorrem ao seu aconselhamento? Casais?
RS– Sim, heterossexuais ou homossexuais. E até “casais” com mais de duas pessoas. Ou individualmente, claro.
OC– Tem atingido os seus objetivos?
RS– Tenho tido algum êxito. Vejo as pessoas mais esclarecidas, empáticas e entusiasmadas com a importância do erotismo na construção de uma sexualidade saudável, inclusiva e expansiva. Tenho promovido as minhas ideias, mas também criado plataformas – eventos e podcasts. O meu podcast “ConSensual”, por exemplo, já teve convidados que abordaram temas desde o tantra ao BDSM ( sigla que denomina um conjunto de práticas consensuais no sexo, envolvendo Bondage -algemas, chicotes, coleiras, etc – ; Dominação; submissão e Masoquismo), passando pelo pole dance, literatura erótica, poliamor, a espiritualidade, a deficiência ou a transsexualidade. E é na partilha desse conjunto de ideias que eu considero estar a base para a criação de uma “cultura” erótica.
OC– E, por fim, como vamos de erotismo em Portugal?
RS- O erotismo sempre foi muito vibrante em Portugal, mas amiúde escondido no subsolo dos pseudónimos e dos bons costumes. Sempre tivemos muitos pensadores, escritores e ilustradores com as mais diversas ideias libertinas, muitos deles com vidas conservadoras, mas que, em segredo, iam dando asas aos seus desejos e às suas fantasias, através das mais criativas e, muitas vezes, humorísticas manifestações artísticas. Não é por acaso que o teatro de revista ou a música brejeira se tornaram tão populares. O erotismo em Portugal ressoa muito no trocadilho, no humor, na desconstrução dos trâmites sociais e, acima de tudo, no anti-poder. Ao contrário, por exemplo, da exuberância do erotismo francês, da provocação do erotismo italiano ou da severidade do alemão, o erotismo português alimenta-se, sobretudo, da subversão, do secretismo, do implícito e da perversão das regras sociais. Talvez por isso ainda esteja muito submisso do medo, da vergonha e do “fazer o que não se deve”.
Jornalista