Apelar ao otimismo é, nos dias que correm, o mesmo que pedir a um ciclista que vença a Volta a Portugal numa bicicleta sem rodas. Os desaires da classe política somam-se a cada dia que passa. Das escutas às buscas, passando pelos indícios, suspeitas, detenções e constituição de arguidos, até às decisões judiciais alvo de recurso e que se arrastam no tempo, resta a questão: qual o preço a pagar pelas gerações mais novas?
Ao contrário do que se possa julgar, os adolescentes (mesmo os que ainda não votam, mas para lá caminham) têm uma opinião formada sobre a política, genericamente falando. E não são tão poucos quanto isso. Não só porque estão atentos à realidade que os circunda e sujeitos a vários fatores de influência (em maior ou menor grau, e cuja veracidade do que lhes é exposto nem sempre corresponde à verdade absoluta), mas sobretudo porque têm hoje recursos que, ao contrário de outros tempos, lhes permite a partilha de opiniões e até de interpretações desvirtuadas (fake news, ou o que queiramos chamar-lhe) em tempo real.
Mesmo que lhes falte (alguma) capacidade de análise, é mais confortável optarem pelo discurso opaco, facilitista e sem base sustentável. Em palavras simples, para descomplicar: considera-se muito mais legítimo enveredar pelo caminho dos que bradam por um país menos corrupto e gritam “vergonha!”, do que comparar medidas estruturais concretas (e, consequentemente, questionar de que forma foram desenhadas as propostas apresentadas, se as mesmas estão enquadradas na nossa realidade orçamental e, não menos importante, quais os seus impactos a médio e longo prazo).
Esta perspetiva desfocada aplica-se igualmente às classes mais vulneráveis (pensionistas que fazem contas antes do final de cada mês, por exemplo, e os que acumulam a reforma com o regresso ao mundo laboral por força das circunstâncias). É a economia a funcionar, portanto, num modelo ao qual estamos demasiado habituados a conviver: aumento do custo de vida, diminuição do poder de compra. A culpa é da inflação.
É sobejamente conhecida a necessidade de rejuvenescimento das estruturas partidárias. A começar, aliás, pelas que constituem o poder autárquico. O que deveria servir de exemplo para atrair recursos da sociedade civil, revela-se, afinal, um problema comum à escala nacional. Isto é: as organizações partidárias continuam à mercê das vontades e ambições de caciques que, através de ramificações de gente supostamente influente, tudo fazem para levar a água ao seu moinho.
Por arrasto, fica prejudicada a defesa da causa pública e perdemos todos nós. Tão somente porque, a título ilustrativo, a mera afiliação a um partido político (seja ele qual for, e mesmo que localmente), contempla um escrutínio interno que vai muito além das capacidades de quem pretende contribuir com ideias e opiniões para um desenvolvimento mais próspero.
Não por acaso, aliás, as escolhas diretas de chefias de gabinete, assessores, conselheiros e afins são consideradas cargos de “confiança política”. Nada contra os escolhidos. Afinal, foram eles que, percorrendo rua a rua, acompanhando candidatos e em prol dos interesses dos partidos políticos, deram o seu melhor. Há quem tenha retorno do esforço empreendido. E há os restantes que, mesmo tendo dado o rosto, foram votados à sua insignificância e triturados por máquinas partidárias que não olham a fins para atingir os seus objetivos.
A questão inicial impõe-se: qual o preço a pagar pelas gerações mais novas? Sobretudo quando elas se aperceberem (por mais tarde que seja) que a incompetência, inabilidade ou inaptidão estão acima de um conceito tão simples: o reconhecimento do mérito próprio. Se hoje estamos como estamos, amanhã poderemos não estar melhores…
Jornalista