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Sábado, Maio 4, 2024

O 25 de abril aos olhos de uma criança

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Joaquim Marques
Joaquim Marques
Subdiretor

Escrevo este texto na primeira pessoa, reportando aos tempos do 25 de abril. Ao próprio dia e seguintes, mas sob uma perspetiva de uma criança que, tendo presenciado esta pacífica revolução, não pôde compreender na íntegra o que se passava.

Os tempos ante revolução na escola eram bem diferentes: a disciplina era a regra, embora se baseasse demasiadas vezes na violência (eram vários os motivos – nem sempre válidos, para levarmos umas reguadas, com a palmatória – mais doloroso ainda…, ou com uma vara que se vergava (fustigando os nossos corpos…).

A minha primeira classe foi feita antes da revolução e, na segunda – com o ano letivo a acabar, eclodiu a revolução. Diga-se de passagem, que, no plano curricular, com o fim da ditadura, não vi grandes diferenças – suponho que terá tudo ficado (quase) na mesma, mas ao nível da violência gratuita (física e psicológica), a mudança foi imediata – para melhor, claro está!!

Eram dias de tensão – quiçá apreensão, que pairava no ar todos os dias e a qualquer hora. Uma coisa estranha para uma criança de 7/8 anos que não conseguia perceber o que se passava, sendo que as explicações também não eram muitas (tempos conturbados para os adultos, e ainda mais para as crianças, naturalmente…).

Cecília , Liberdade 25 de Abril

Mas passemos um pouco ao “baú das memórias”, descrevendo alguns episódios que por lá ficaram retidos (as máquinas fotográficas ao tempo eram um luxo…):

Soube-se da Revolução pela Rádio e, mais tarde, pelos Jornais e TV lá conseguimos ver umas imagens dos militares a confraternizarem com o Povo;

Na escola, naquele dia – apressadamente…, foram, sem aviso e explicação, retirados os quadros com as fotografias representativas do regime ditatorial e o crucifixo… Passados uns dias, foi reposto o crucifixo na parede e no local original;

– Logo de seguida à revolução, o Povo pôde, finalmente, festejar o 1º de Maio em liberdade!! A enchente e alegria nas ruas foram incomensuráveis;

Mais tarde (em 1976), e ainda em pleno “espírito revolucionário” os militares transportaram centenas de crianças (nas suas viaturas “de serviço” – camiões militares) para um concerto de música infantil no “Palácio de Cristal” (Porto) para as comemorações do Dia Mundial da Criança,  onde, entre outros, estava o magnífico José Barata Moura… Uma enchente!! Humana e de alegria!! Inesquecìvel!! Ainda hoje me recordo quando os militares, de surpresa, chegaram com as suas viaturas para levarem as crianças a esse magnífico espetáculo!!  (A própria “volta” foi, em si, razão para muita alegria) … A criançada sabia todas as músicas de cor, sendo que a mais sonante, a “Fungagá da Bicharada” foi cantada, em plenos pulmões em uníssono.

Este é um testemunho diferente, mas autêntico, de quem vivenciou esta extraordinária Revolução!

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