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Sábado, Dezembro 14, 2024

Na Faculdade de Economia de Coimbra usa-se a fotografia como veículo de humanização

A Direção da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, lançou-lhe o desafio - criar espírito de corpo na faculdade. E o professor Eduardo Barata respondeu com uma das suas grande paixões - a fotografia. Nasceu, assim, o ciclo de exposições fotográficas semestrais. Já vai no 15ª edição e, atualmente, é da professora Rosa Monteiro a coleção patente na parede "mítica" do estabelecimento de ensino superior. Chama-se "Caminho". O Cidadão foi a Coimbra para saber mais. E conversou com o mentor e curador do evento, o professor de economia, Eduardo Barata.

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O professor explica ao repórter de OC, por que motivo é aquela a parede adequada para expor as fotos -Foto de ANTÓNIO PROENÇA

Há uma parede, antes singela e “anónima”, que ganhou estatuto  e é, agora, com ou sem fotografias, talvez a mais célebre da faculdade. Localizada onde quase todos passam, foi, por isso, a escolhida para suportar o Ciclo de Exposições Semestrais de Fotografia que o Professor Eduardo Barata criou. Os ciclos iniciam-se em Setembro, decorrem até Fevereiro; depois, uma pausa para “a parede respirar” e, de finais de fevereiro até julho, inicia-se novo ciclo. Atualmente decorre o 15º ciclo.

Mas desengane-se quem pense que é uma exposição qualquer. Embora feita por amadores, tem características que lhe dão particular importância. Ou não sirva para “humanizar e unir as pessoas” que diariamente utilizam o estabelecimento de ensino.

“Desafiamos, criamos um tema e depois temos que mobilizar alguém para trabalhar esse tema, sempre com orientação de uma linha curatorial. Procuramos estabelecer alguns padrões de qualidade, com uma abordagem 100% amadora. De nós e para nós. Não temos a pretensão de transformar este ciclo de exposição de fotografia em algo profissional nem que tenha sequer a ambição de atingir tais patamares.” – disse o professor associado.

Estes ciclos são temáticos e envolvem toda a população da faculdade : alunos, professores e funcionários. “Quem tira as fotografias são colegas professores, alunos de diversos graus,  funcionários e procuramos sempre diversificar. A seguir a um professor de uma área, vem um professor de outra, depois vem um aluno, a seguir um de mestrado, depois um de doutoramento, no seguimento, um funcionário, depois de um homem, uma mulher e assim sucessivamente.” – esclarece Eduardo Barata.

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Eduardo Barata ambiciona com a fotografia, “chegar onde as palavras não chegam”. Foto de ANTÓNIO PROENÇA

TEMAS DIVERSOS

Como foi referido, as exposições são temáticas. E os temas têm sido muito  diferentes uns dos outros. De momento, chama-se “Caminhos”. A autoria é da professora Rosa Monteiro, ex-secretária de estado da Igualdade. Eduardo Barata adianta que a temática tem sempre muito em comum com a pessoa que tira as fotografias. “Esta, da professora Rosa Monteiro, tem a ver com o caminho que se percorre. Denotam protesto, denúncia. Há monocromia e toda uma narrativa associada que é trabalhada em conjunto. as fotos fornecem um testemunho, uma expressão capaz de acrescentar valor sobre pobreza e luz, dignidade e textura, ou igualdade e a “regra dos terços”. A fotografia é uma oportunidade suprema para a autoexpressão.”

O Espaço“, “Liberdades”, “Igualdades“, “Infinito”, ou “Do Ar e da Água“, são algumas das temáticas que têm dado vida àquela parede, quase mágica,  adornada com fotos a preto e branco. Mais, muito mais, do que olhar para fotos, o que está ali é vida, chamamento, natureza. “Fotografar é dialogar, partilhar; uma fotografia é um objeto de partilha, de acesso.” – diz o professor de Economia.

E continua a explicar-nos  a importância deste muro fotográfico. As pessoas  (professores, alunos), sempre. E o seu envolvimento permanente. “Sim, as pessoas fecharam-se muito nas suas próprias áreas; o que distingue esta faculdade é a nossa capacidade de colocar em diálogo áreas que, até aqui, trabalhavam de forma demasiado estanque. Pretende-se colocar as pessoas a formar um espírito de grupo, partilhar um objetivo comum. Humanizar estas paredes é permitir que haja transversalidade.”

VEÍCULO

O professor Eduardo Barata transpira paixão pela fotografia. A conversa flui e os seus olhos brilham quando nos esclarece o traço, a sombra, a imagem ou o local. Para muita gente, as fotografias representam algo estático, com meros fins contemplativo. Quiçá memórias de momentos. Para Eduardo Barata, vão muito para além disso. “Mesmo que incompatível com a intervenção, num sentido físico, fotografar é uma forma de participação. Embora pressuponha uma postura de observação, o ato de fotografar é muito mais do que observação passiva. Tirar uma foto é ter interesse pelas coisas como elas são.” – escreve na nota de apresentação do temam “Caminhos”.

A fotografia é uma forma de comunicar – para Eduardo Barata, uma forma suprema. Quando questionado se a fotografia é a arte que surge por acaso neste propósito de humanizar, de partilhar e de unir – podia ser o cinema, a banda desenhada ou a pintura, por exemplo – responde de forma lapidar. “O meio utilizado é apenas isso mesmo, um veículo. Claro que podia ser a pintura ou outra forma, mas a fotografia é um veículo muito mais democrático. Todos nós temos a possibilidade – e mesmo a tentação espontânea – de fotografar tudo o que nos rodeia. Estamos no lado de “cá”, como na “Caverna de Platão”.” De facto, hoje, a maioria das pessoas têm telemóveis,  equipados com máquinas fotográficas, o que confere essa “democraticidade” à fotografia, de que fala Eduardo Barata.

ESTÍMULOS

O apoio para estes eventos é da Faculdade de Economia, de quem a dirige. Talvez não contassem com um envolvimento e interesse tão grande como aquele que existe com as exposições. E até que, fotografar, criasse esse espírito coletivo, tão desejado na faculdade. “Todos se envolvem, todos. Diferentes cargos, diferentes estatutos, diferentes idades. Toda a faculdade participa com grande interesse.”

No caso concreto dos alunos “Envolvem-se bastante” – diz. E acrescenta “É muito importante renovar os laços que temos com os estudantes. Se passarmos 2 ou 3 ciclos sem os envolver, começam a ficar um bocadinho mais neutros; quando os voltamos a envolver, voltam a aproximar-se e a gostar muito do que estão a fazer. Os estudantes precisam de estímulos. As exposições contribuem para que sintam os estímulos certos para também enriquecerem-se por esta via”.

Os ciclos de exposições decorrem a par com os semestres letivos : de setembro a fevereiro e de finais de fevereiro a julho. A paragem decorre durante o mês de fevereiro. “Se queremos que as pessoas sintam e criem envolvimento com a exposição, temos de parar, o que fazemos em fevereiro para a parede respirar…Fazemos questão de que haja um pousio e as pessoas sintam a necessidade de ver aquele canto novamente com fotografias.” – explica.

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“Os estudantes precisam de estímulos” – afirmou o Professor Eduardo Barata – Foto de ANTÓNIO PROENÇA

EDUARDO BARATA

Mentor e Curador deste Ciclo de Exposições, Eduardo Barata nasceu em dezembro de 1969, na cidade de Sá da Bandeira (atual Lubango), em Angola. Vive em Coimbra, é Professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) e investigador do CeBER. Licenciado em Economia (1993) e Mestre em Economia Financeira (1997) pela FEUC. Doutor em Environmental Social Sciences (2003) pela School of politics, Internacional Relations and the environment da Universidade de Keele, no Reino Unido. É, também, membro do Conselho de Administração da Metro Mondego

Segundo o livro que acompanhou a sua exposição ( Do Ar e da Água), “é comunicativo, dedicado e minucioso, amante da Natureza e do ar livre, encontrou na fotografia um impulso para ambicionar chegar onde as palavras não chegam, revelar mistério no que nos é familiar, que conhecemos…mas não vemos”. Algumas destas características são rigorosamente verdadeiras, acreditem!, testemunhadas pela equipa de reportagem de O Cidadão.

Reportagem OC: A.Jorge Santos (texto) e António Proença (fotos)

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A parede “mágica” que foi escolhida para colocar as fotografias dos diversos ciclos, a fim de Humanizar mais a Faculdade e criar espírito de corpo. Foto de ANTÓNIO PROENÇA

 

 

 

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