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Quarta-feira, Maio 1, 2024

Mulheres na Música (Parte 7) : Guilhermina Suggia

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Depois de May Mukle, consagrada como a pioneira das mulheres violoncelistas em Inglaterra com o estatuto de concertista e depois de Beatrice Harrison, a primeira mulher violoncelista a tocar no Carnegie Hall, Suggia foi a primeira violoncelista portuguesa a alcançar os palcos internacionais.

Teve como primeiro professor o pai, Augusto Suggia que lhe facultou o primeiro encontro com Pablo Casals no Verão de 1898, em Espinho. O pai de Guilhermina, atraído pela fama do violoncelista, pede-lhe para ouvir a filha (com apenas 13 anos) e Casals, arrebatado com o som do seu violoncelo, aceita dar-lhe lições.

Em Paris, Suggia e Casals vivem juntos na Villa Molitor, onde convivem com os principais intelectuais da época como: os pintores Eugène Carrière e Degas, o filósofo Henri Bergson, o escritor Romain Rolland, e os compositores Ravel, Schönberg e Saint-Saëns.

A Rainha D. Amélia concede a Suggia uma bolsa para estudar em Leipzig, onde trabalha com o professor Julius Klengel. Sobre a sua discípula, informa Klengel num certificado, datado de 19 de Junho de 1902, que “sem dúvida não tem havido uma violoncelista com o mérito da artista de que me ocupo, que também não tem nada a recear no confronto com os seus colegas do sexo masculino. Mlle. Suggia, possuindo alta inteligência musical e um completo conhecimento da técnica, tem o direito de ser considerada, no mundo artístico, como uma celebridade” e acrescenta, “cheia de talento, conhecedora de todos os segredos do violoncelo, começa a subir e há-de ir tão alto que ninguém a atingirá”.

No final dos anos 40, o encontro de Suggia com Maria Adelaide Gonçalves, diretora do Conservatório de Música do Porto, é um corolário para a vida musical da cidade: a formação da Orquestra Sinfónica do Conservatório do Porto. Suggia corroborou o naipe de violoncelos e foi solista no concerto de apresentação da Orquestra, na noite de 21 de Junho de 1948, no Teatro Rivoli.

Em 1949, Suggia com sinais visíveis de doença, cria o Trio do Porto, constituído por ela, pelo violinista Henri Mouton e pelo violetista François Broos. É também durante os anos 40 que Suggia reforça os laços musicais com compositores e intérpretes portugueses. No sentido de distinguir o melhor aluno do Curso Superior de Violoncelo do Conservatório de Música do Porto é instituído por vontade testamentária da violoncelista o Prémio Guilhermina Suggia, atribuído pela primeira vez em 1953.

Igualmente em cumprimento de disposição testamentária é instituído, a partir de 1951 o Prémio Guilhermina Suggia a atribuir pela Royal Academy of Music de Londres. Jacqueline Du Pré (Oxford, 1945-1987) ganhou, com 10 anos, o Prémio Suggia, o qual lhe permitiu estudar com William Pleeth na Guildhall School of Music.

No Porto, o seu sentido de humor não é bem entendido na sociedade da altura. Muito culta, torna-se uma mulher muito avançada para a época ao praticar natação, remo, ténis e ao conduzir o seu renault preto.


Palavras de Guilhermina Suggia:

Suster um baixo por um longo período e a possibilidade de cantar uma melodia praticamente em qualquer registo.” “A técnica é necessária como veículo de expressão e quanto mais perfeita a técnica, mais livre fica a mente para interpretar as ideias que animaram o compositor.”

Para além das gravações existentes em 78 rotações, está atualmente disponível no mercado o CD Guilhermina Suggia plays Haydn, Bruch, Lalo, na etiqueta Dutton (CDBP9748), U.K., 2004.


“Numa das muitas memoráveis noites de tertúlia que tive o prazer de passar em casa de Amália Rodrigues, a Diva contou aos presentes um episódio que lhe fora narrado por António Ferro, envolvendo a própria Amália, a violoncelista Guilhermina Suggia, e o Presidente do Conselho, Oliveira Salazar.

No fim da guerra civil espanhola, o Generalíssimo Franco, nomeou um novo Ministro dos Negócios Estrangeiros. Salazar quis agradar ao novo ministro espanhol aquando da sua primeira visita a Portugal e incumbiu António Ferro de organizar uma festa em sua homenagem, no S. Carlos, fazendo questão que se convidasse a melhor “prata da casa”: Amália Rodrigues, Guilhermina Suggia e o grupo folclórico Verde Gaio. Na véspera do evento, António Ferro, embaraçado, confrontou Salazar com o facto de Guilhermina Suggia exigir quarenta contos pela sua atuação. Salazar, pensativo, retorquiu: ” Realmente, quarenta contos por meia-hora, se tanto, é puxado”. E continuou: “Olhe lá ó Ferro, você sabe tocar rabeca? ” António Ferro, atónito, abanou a cabeça. Salazar adiantou: “Eu também não! Não há outro remédio senão pagar-lhe os quarenta contos. E a Amália, aceitou a nossa proposta?” Ferro, disse que sim e graciosamente. Salazar rematou: “A Amália é boa rapariga!”
Valéria Mendez (Fadista)

Guilhermina Suggia nasceu na cidade do Porto em 1885 e faleceu, na mesma cidade, em 1950.

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