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Domingo, Abril 27, 2025

Mulher, Mãe, Irmã, Companheira e Esposa

No Dia Internacional da Mulher dedico a todas as Mulheres do Mundo esta prosa, em cujo título considero cinco nomes para uma só pessoa... mas ainda lhe podemos atribuir mais um: Maga (porque à "meia-dúzia" é mais barato, e a Mulher também é Economista).

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A Mulher é a base da Família. Podíamos arrumar a questão dizendo que sem Ela não haveria Mundo!… Bem sei que é um exagero… mas é um exagero positivo; e a Mulher sempre foi vítima de todos os exageros negativos que no decorrer da História o Homem exerceu (e exerce) sobre Ela.

Observando a Arte, permito-me ajuizar que nem sempre o Homem maltratou a Mulher.

Muito provavelmente o Homem Primitivo – aquele que conhecemos como troglodita e cujas imagens enciclopédicas no-lo apresentam como selvagem – seria mais “Humano” no tratamento que dava à mulher, provavelmente dotado de mais sensibilidade do que hoje se constata com tantas mulheres assassinadas pelos seus companheiros sentimentais. Esta minha reflexão baseia-se na apreciação que faço do legado artístico da Pré-História.

Os primeiros Homens deram largas à manifestação artística pintando, gravando e esculpindo animais, guerreiros e caçadores… mas também mulheres. De entre a panóplia das coisas mágicas que ocupavam a criação artística dos cavernícolas, encontra-se a figura da Mulher!

Vénus de Willendorf. Direitos Reservados

Das várias figuras que a Arqueologia nos tem mostrado, faz parte esta pequeníssima escultura (com 12 cm. de altura), referenciada como Vénus de Willendorf (datada de 25.000 – 20.000 aC) e que pode ser vista no Museu de História Natural de Viena, mas também nas páginas dos livros que tratam a História da Arte Universal.

Nela observamos aquilo a que podemos chamar “uma mulher parideira”, de ancas largas e braços colocados sobre os úberes cheios de leite. Não é, claramente, uma imagem representativa da beleza feminina, e muito menos erótica ou sexualmente atractiva (esta minha apreciação pode ser discutível… já que sendo a Beleza um objecto estético-filosófico, cada sociedade e cada tempo tem o seu padrão, e não podemos saber como seria o padrão de Beleza de há vinte e cinco milénios).

Permito-me ver na Vénus de Willendorf a representação de uma “Deusa-Mãe”, da qual brotavam filhos, tal como da “Terra-Mãe” o Homem via brotar alimentos e água, ambos necessários à manutenção da vida.

A mulher sempre foi escolhida para modelo artístico na representação da Beleza, atingindo o seu expoente máximo na escultura Greco-Romana que representa a tão apreciada beleza feminina, pelas mãos dos magos que eram (e são) os artistas com tais atributos.

Um dos artistas que melhor retrataram a Mulher (não em escultura, mas em desenho) foi o pintor aguarelista peruano radicado nos EUA, Alberto Vargas (1896 – 1982). Os seus desenhos fizeram capas da revista norte-americana “Esquire” nos anos 30, 40 e 50 do século passado, e foram (e ainda são) disputadíssimos por coleccionadores de todo o mundo.

Aguarela de Alberto Vargas. Direitos Reservados

Porém… (há sempre um “porém” a desilustrar qualquer boa intenção) o tempo mostra-nos a existência de um retrocesso no modo de o Homem tratar ou sentir a Mulher!…

Na Pré-História a mulher merecia ser deusa… mas nos EUA da actualidade parece que não… os desenhos originais de Alberto Vargas estão arrecadados nas caves do Museu Spencer, da Universidade do Kansas, e nunca são mostrados ao público!

A razão deste “confinamento”, motivado pelo vírus da intolerância-e-da-estupidez-desmedida que caracteriza alguns sectores da sociedade norte-americana (e de outras sociedades), está no facto de tais obras de Arte representarem mulheres belas e pouco vestidas, e os responsáveis do museu terem dúvidas interpretativas. Confessam não saber se aquilo é Arte… ou pornografia!…

(Tinham essa dúvida em Novembro de 1998, altura em que o caso foi noticiado. Não sei se no quarto de século, entretanto, já gasto, conseguiram cura e adquiriram alguma certeza. Espero que a certeza adquirida [se o foi] não tenha sido a da pornografia!…)

Eu não tenho dúvida em aceitar a obra de Alberto Vargas como Arte… mas já duvido da qualidade do pensamento de todos os censores, estejam eles radicados nos EUA ou em qualquer outra parte do mundo.

Os americanos típicos não são muito diferentes dos radicais islâmicos na preservação das suas censuras, dos seus costumes e dos seus tabus. E no que respeita ao tratamento da Mulher, o regime islâmico estabelecido no Irão (onde se constituiu um governo homofóbico e teocrático como espelho dos piores modelos políticos que alguma vez os homens pariram) é o inferno estabelecido na Terra, só comparável ao Afeganistão que decretou a proibição de as Mulheres frequentarem a Escola! Para as autoridades iranianas (e afegãs) a Mulher não passa de um animal menor, sem direito de cidadania nem de livre escolha.

Ela é obrigada a obedecer aos homens que assim ordenam e decretam superiormente… este adjectivo, a meu ver, deveria ler-se “inferiormente”, tão rasteiro e rafeiro ele é em termos de entendimento da igualdade que nessas partes do mundo não se aceita.

Masha Amini. Direitos Reservados

Masha Amini era uma jovem Iraniana de 21 anos, no fulgor da juventude, com projectos pessoais, vontade de viver e de ser ela própria, quando, em Setembro de 2022, a “Polícia dos Costumes” de Teerão a prendeu e agrediu selvaticamente provocando-lhe a morte.

O motivo deste crime, que o Supremo líder iraniano Ali Khamenei sufragou, foi a recusa de Masha Amini em cumprir a ordem dos polícias que a queriam obrigar a esconder sob o hijab (lenço da cabeça) um tufo de cabelo que se via na testa.

Chamar “Polícia dos Costumes” a uma corja (credenciada pelo Governo) de bandidos desrespeitadores das vontades e da dignidade da Mulher, é como chamar “papas de sarrabulho” a uma tijela cheia de “merda de porco”!

Em consequência deste crime, pessoas e governos em todo o mundo reagiram à morte da jovem. Houve manifestações em várias capitais e também em Teerão, onde muitas mulheres destaparam a cabeça e cortaram o cabelo em público como protesto, o que terminou em perseguições policiais, prisões e muitos mais assassinatos cometidos pelos costumeiros “Polícias dos Costumes” protegidos pelo “representante de Deus na Terra” Ali Khamenei, que deveria ser brindado com o cognome: “O Sem Vergonha”.

Os direitos das mulheres nunca são respeitados por governos machistas e teocráticos… mas não são os únicos! Mesmo fora de tais paragens geográficas, a mulher continua a ser maltratada. Até mesmo nesta nossa sociedade ocidental (incluindo Portugal, Terra linda e de brandos costumes) os exemplos negativos abundam.

Nós defendemos o direito à igualdade de oportunidades… mas a realidade mostra-nos a “letra morta” dessa premissa! As leis laborais ainda diferenciam o trabalho do Homem, do trabalho da Mulher, atribuindo ordenado inferior às mulheres, mesmo quando Elas efectuam o mesmo trabalho exercido por Eles… lado a lado na mesma empresa!

Para além disso temos demasiados crimes relacionados com a falta de respeito pela Mulher, catalogados no dossiê “Crimes Passionais”. Estatísticas de Agosto de 2023 mostram que nos primeiros oito meses desse ano houve, entre nós, 14.800 queixas de violência doméstica e 12 homicídios no primeiro semestre, de entre os quais se contam 10 mulheres, uma criança e um homem.

Este tratamento inferior que se dá à Mulher tem origem bíblica e configura um primitivismo de que não nos separamos, o qual se agravou muito tempo depois de esculpirmos a Vénus de Willendorf. Talvez se tivesse agravado exactamente na época em que foram feitos os registos bíblicos.

Na Mitologia religiosa Judaico-Cristã a mulher é apresentada como inferior ao Homem, já que este teve a subida “honra” de ser “criado por Deus à sua imagem e semelhança”, com toda a atenção e com todos os cuidados que uma criação divina exige… enquanto que a Mulher foi arrancada de uma costela do Homem, ao estilo do trabalho de um talhante, como sub-produto da Criação!…

Hoje, passados cerca de 4 mil anos depois de escritos os textos bíblicos, e menos de 1500 anos depois de escrito o Alcorão, naquelas mesmas terras bíblicas e Corânicas do Médio Oriente, a Mulher ainda é tratada como um sub-produto!…

E na nossa terra… à nossa porta… não tendo um tratamento tão negativo, Ela ainda não é totalmente respeitada nas suas vontades, nem na sua personalidade e feminilidade, como o devia ser numa sociedade moderna e inteligente.

Nós, Homens… até podemos ser “modernos”…

Inteligentes… é que já dá para desconfiar!…

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