Olho para o fracasso com um misto de medo e vergonha, desde que me lembro de ser gente.
O embaraço, assim como o rótulo negativo associado a algo que não correu bem, sempre me pareceram bons motivos para não tentar.
Entender estas circunstâncias como uma questão cultural parece ser uma perspetiva cada vez mais plausível.
Vem isto a respeito de um podcast que pretende abrir horizontes no que ao mundo dos negócios diz respeito.
O anfitrião – um bem-sucedido empresário português, criador de uma marca internacional – e o seu convidado – igualmente bem-sucedido empresário, português, com negócios diversos em várias partes do mundo.
A dado momento, ambos falam da relação com o fracasso, a forma como se aprende com ele, e da mentalidade portuguesa em relação a este, comparativamente com outras culturas.
Explicar o sucesso é, acima de tudo, admitir que muitas vezes se tentou e muitas vezes se falhou.
No fundo, acabamos por perceber que são as situações negativas que ditam o caminho a trilhar: aprendemos o que é errado; não repetimos e melhoramos o que temos de melhorar.
É isso que se espera de um espírito persistente, empreendedor e vencedor. Será justo dizer-se que o sucesso se explica pela atitude pessoal em relação ao fracasso, mas é igualmente importante não esquecer a componente social do país onde vivemos – somos reflexo dessa mentalidade.
Culturalmente, a nossa essência é calma e recatada e o desafio não é uma constante, nem tão pouco um denominador comum da nossa alma.
As raízes portuguesas enquadram-se num contexto de serenidade e incompatibiliza-se com incerteza e instabilidade empresarial.
Existem outros países – EUA – onde o fracasso é assumido sem embaraços. Como algo perfeitamente natural. Essa naturalidade em muito se explica pela mentalidade inerente à cultura americana – inconformada e aventureira.
Entender estas diferenças é perceber que transportamos individualmente características comuns: se algum dia aspirarmos a ser algo mais, teremos de mudar mentalidades.
E mudar mentalidades não é tarefa fácil! Implica persistência e, acima de tudo, não ter medo do fracasso!
Estaremos dispostos a isso?

Professora de Português e Alemão