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Quinta-feira, Dezembro 5, 2024

Miguel Ângelo – “É preciso que as pessoas lutem diariamente pelos seus direitos”

A 6 de abril, os Delfins sobem ao palco do Meo Arena, em Lisboa, para um concerto que assinala os 40 anos de carreira da banda.

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Abílio Ribeiro
Abílio Ribeiro
Jornalista

 Numa breve conversa com O CIDADÃO, Miguel Ângelo promete um espetáculo repleto de “canções que resistiram ao tempo”. A passagem pelo Festival da Canção (1985), a evolução do digital e até o serviço militar são alguns dos temas abordados pelo vocalista que, sempre que pode, participa em atos de cidadania – alguns mesmo “por opção, perdendo boas oportunidades profissionais”, diz.

Integraste os Delfins aos 16 anos e, durante a gravação do primeiro álbum, a banda ainda não tinha nome. Quando surgiu a possibilidade de se chamarem “Cavalos Marinhos”?
Foi aquando da gravação do primeiro single, em 1984. Ainda procurávamos um nome que espelhasse uma atitude e uma composição mais pop, que resolvemos adotar e perseguir. Eu, pessoalmente, queria um nome mais curto do que “Cavalos Marinhos”! Acabámos por ir para outra espécie marinha…

Em 1985, participaram no Festival da Canção e ficaram em último lugar. Que lição retiraram desta experiência? Arrependeram-se?
Não. Quando se tomou aquela atitude de participar [com o tema “A Casa da Praia”], que encerrava alguma subversão, vai-se à guerra e tenta-se nunca a perder. Foi o que fizemos ao embandeirar em arco o último lugar – e que, para nós, que não nos identificávamos com o Festival da Canção daqueles tempos, era o primeiro.

Os Delfins celebram 40 anos de carreira. Qual o segredo para alcançar esta longevidade?
Os Delfins celebram a 6 de abril deste ano, no Meu Arena, os seus 40 de canções. E é isso mesmo, canções. São elas que resistiram ao tempo e que continuam a passar nas rádios, com muitas pessoas a quererem ouvi-las. A canções encerram esse segredo…

Escolheste a música em detrimento da arquitetura. Consideras que poderias ter sido um arquiteto bem-sucedido e feliz?
Sim, penso que sim. Mas houve que optar e, dada altura, escolhi aquilo que já tinha escolhido antes da arquitetura.

Estamos auge do “streaming” e do digital. Esta evolução alterou quer a forma de fazer música, quer a maneira de ganhar dinheiro?
De fazer talvez, formalmente. Por exemplo, o TikTok veio reduzir a duração dos novos singles da pop para pouco mais de dois minutos… Quanto à parte económica: na realidade, em Portugal, e devido à dimensão do nosso mercado, os espetáculos ao vivo sempre foram o pilar fundamental para alcançar o profissionalismo.

Não foste à tropa, já que recorreste ao estatuto de objetor de consciência. O regresso do serviço militar obrigatório é um assunto em voga por estes dias. Achas que é o caminho acertado?
Será um retrocesso civilizacional se isso acontecer! Estarei na primeira linha para defender o oposto, como já o fiz no passado.

Apresentaste o “Cantigas da Rua” (SIC). Não foi demasiada exposição, tendo em conta que, na altura, havia a ideia de que apresentadores de programas de talentos não eram para ser levados a sério?
Correm-se sempre riscos, num país pequeno. Mas sempre achei que os músicos eram prejudicados nessa exposição comparando, por exemplo, com os atores. Estava a cumprir um papel num programa que tinha quase 3 milhões de pessoas a vê-lo, na altura. E sem concessões.

Nas últimas eleições, fizeste uso do teu direito ao voto?
Votei, sim. É, de facto, um direito. Mas depois é preciso que as pessoas lutem diariamente pelos seus direitos. Ou contra quem os quiser limitar, esteja ou não no poder.

Procuras ser um cidadão participativo? Como exerces a tua cidadania?
Ao longo dos tempos é algo que tento cumprir, quer por convites – a maior parte –, quer por iniciativa própria. E às vezes por opção, perdendo algumas boas oportunidades profissionais… Mas isso fica com cada um e com as respetivas consciências. Cada vez mais julgo que o ser humano não vive tempo suficiente para se aperfeiçoar, numa lógica humanista, e proporcionar a si e aos outros liberdade e a solidariedade.

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