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Quarta-feira, Janeiro 22, 2025

Marcelo – o Amigo da Extrema-Direita

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Onofre Varela
Onofre Varela
Jornalista/Cartunista

Marcelo Rebelo de Sousa só não me desilude porque nunca me iludiu. A um fervoroso católico nunca devia ser permitido candidatar-se a presidente de uma República Laica. Com o seu espírito religioso poderia ser presidente de uma república islâmica ou de uma qualquer ditadura latino-americana… mas de um país democrático da Europa Ocidental no século XXI… não!

Depois deste intróito, vem a razão deste texto: a desculpa devida a um agredido, pelo próprio agressor, é uma atitude de inteligência e humildade. Inteligência e humildade são valores que caminham juntos… mas quando separados não são nem inteligência, nem humildade!

Estou a lembrar-me de Barack Obama quando visitou Hiroshima em Maio de 2016 e se mostrou inteligente e humilde. Foi a primeira visita de um presidente norte-americano ao Japão desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 6 de Agosto de 1945, os EUA lançaram uma bomba atómica sobre Hiroshima provocando a destruição da cidade e a morte instantânea de mais de 70 mil pessoas, repetindo a destruição atómica dias depois com outra bomba sobre Nagasaki causando mais de 60 mil mortos… e terminando com a guerra.

Foi notícia por demais divulgada o facto de Obama, nesta viagem que fez ao Japão, não ter pedido desculpa pelo facto atómico que enlutou os nipónicos há 71 anos (em 2016. Hoje, 79 anos). Nas suas palavras, o seu objectivo foi “honrar todos os que morreram na Segunda Grande Guerra Mundial”, insistiu Barack Obama perante a pergunta dos jornalistas se pedia perdão ao Japão pelo deflagrar das bombas atómicas.

Os pedidos de perdão (e respectivas indemnizações) por actos políticos cometidos no percurso da História do Homem, têm de ser muito bem peneirados para terem algum cabimento. Não podem ser tomados pela rama, e nada significam para além da hipocrisia que representam, já que os actos bélicos praticados, e pelos quais se pede desculpa, continuam a ser cometidos hoje, com resultados idênticos, provocando sofrimento às populações.

A História é uma colecção de acontecimentos políticos, económicos e sociais que tiveram lugar no decorrer de todas as épocas e que contam a história de todos nós tal como aconteceu e não de outro modo. Reescrevê-la é uma atitude desonesta porque engana as novas gerações. Há 66 anos tive um professor de História (de nome Pires Praça) na Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis (Porto) que me ensinou a definição de História do seguinte modo: “História é uma sucessão sucessiva de sucessos sucessivos que sucedem sucessivamente sem cessar”.

Esta “sucessão de sucessos” acontece de acordo com realidades temporais e locais, e o estudo posterior das causas que lhes deram origem não pode ser descontextualizado nem manipulado… se o for, não se fala de História… mas de ficção, narrativa idealizada… ou qualquer outro termo que se queira usar e que esteja distanciado dos factos históricos!

Marcelo só é presidente desta nossa hilariante república (das batatas… que não das bananas!) porque teve votos para tal, e eu permito-me afirmar que os votos recolhidos não foram decididos pela inteligência dos votantes, mas pela emoção… exactamente como os votos que elegeram o partido radical da extrema-Direita que se senta no Parlamento imbuído da intenção de minar, por dentro, a Democracia que lhe deu voz e visibilidade para, mais facilmente, instaurar uma ditadura e enterrar a Democracia… logo que lhe deem força para isso!

Os eleitores do radicalismo (na sua esmagadora maioria) nem imaginam o que fizeram!… Se, de entre eles, houver quem saiba porque o fez, é minha convicção de que esse(a) cidadão(ã) não fará parte do lote dos melhores de nós, porque não teve em conta os outros… os seus iguais que são as minorias… agindo egoísticamente, pensando em si próprio(a), esquecendo todos os demais cidadãos (imigrantes, ciganos, africanos e a comunidade de homossexuais e transsexuais) que não considerará seus iguais nem, tão pouco, gente com direitos humanos.

Foi notícia que “Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu que Portugal é responsável pelos crimes cometidos durante o período de escravatura transatlântica e a era colonial e que, por isso, deve pagar reparações”!

Não me passa pela cabeça que Portugal exija, de França, reparações pelo desastre da Ponte das Barcas que o marechal francês Soult provocou no Porto em 29 de Março de 1809, provocando cerca de quatro mil mortos!… Nem que exija a devolução do ouro que os soldados franceses levaram da Igreja de S. Francisco, raspando a talha dourada!

Pelo mesmo raciocínio, a Igreja Católica deveria indemnizar não só as suas vítimas de pedofilia, mas também milhões de africanos que foram forçados a abandonar as suas religiões animistas para se converterem, pela força do invasor, ao Cristianismo que não sentiam, não era seu, nem em consciência o queriam! Isto é História. Deve ser lembrada e nunca mais permitida a sua repetição…

Durante mais de 400 anos, pelo menos 12,5 milhões de africanos foram raptados e transportados para vários pontos do globo para serem vendidos como escravos (…) Só Portugal foi responsável pelo tráfico de quase seis milhões de pessoas, um número superior ao de qualquer nação europeia” dizia a notícia divulgada por Marcelo Rebelo de Sousa, à qual ele acrescenta a vontade que tem de haver lugar a uma indemnização, porque uma desculpa não basta, diz ele! E eu não vejo como! Pode-se devolver objectos de Arte roubados, mas como é que se devolve a dignidade roubada? Com dinheiro?! Desde quando é que o dinheiro é sinónimo de dignidade?!…

Com este seu discurso, Marcelo deu munições à extrema-Direita para o atacarem nas comemorações do 25 de Abril, cujo significado histórico da data os “patriotas de aviário” detestam, abominam e odeiam. Os extremistas com ideologia de Direita gostam tanto da Revolução dos Cravos, como o Partido Comunista gosta do povo ucraniano atacado por Putin… viram-lhe as costas!

Para além desta posição do presidente da República, que para mim configura um disparate, Marcelo conseguiu produzir mais disparates num só dia!… Numa palestra dada a jornalistas estrangeiros, Marcelo permitiu-se traçar retratos psicológicos de Luís Montenegro e de António Costa… para além do seu próprio filho – que o terá enganado com o caso das criancinhas brasileiras a receberem tratamento milionário em Lisboa, e parece que por causa disso já cortou relações com o “senhor doutor Nuno Rebelo de Sousa”…

Na sua apreciação, Luís Montenegro será saloio e rural por ser oriundo de Aveiro… e como toda a gente sabe, Aveiro nada mais produz para além de sal, ovos moles e enguias fritas!… Por isso estará precisando de lições de “postura cidadã e citadina” que Marcelo se proporá dar porque nisso é doutorado… e mais: como animal político que é, Marcelo sabe muito bem como se espetam punhais nas costas de quem não se gosta, coisa em que Montenegro estará perfeitamente às escuras porque na aldeia onde nasceu só se resolvem questões à pedrada e de olhos nos olhos.

E António Costa (que já tem o punhalzinho espetado nas costas há imenso tempo) é dono de um raciocínio lento porque é “monhé”!… O seu pai era indiano e ele terá herdado aquele modo de raciocinar deplorável da casta a que pertenceria o seu velhote, e que por isso só consegue pensar de três modos: devagar, muito devagar e devagarinho!…

O “mais alto magistrado da Nação”, como se etiquetava o presidente da República no tempo do ditador Salazar que os extremistas de Direita adoram e querem recuperar da tumba com o lema “Deus, Pátria e Família”, não me parece estar a usar do melhor modo o raciocínio de gabarito que dizem ter… ainda não percebeu que é presidente de uma República Laica composta por gente de variadas sensibilidades políticas e religiosas, e que deixou de ser comentador da televisão desde que se candidatou à presidência. Ainda não entendeu isso e continua a fazer comentários como se fosse cronista social da imprensa cor-de-rosa…



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