O FOTOJORNALISMO NA VERTENTE DA ANÁLISE SOCIOLÓGIA
Manifestação de Professores
Texto de Carlos Ribeiro e Fotos de João Lobato





A manifestação de professores do ensino público que teve lugar em Lisboa do ano passado em frente às escadarias da Assembleia da República, foi mais uma oportunidade para um ensaio fotográfico de João Lobato, transcendendo a abordagem do registo fotojornalístico puro (fatual), para um patamar de registo mais íntimo dos manifestantes, caindo de certo modo na análise sociológica e no populário que sempre encontramos em iniciativas cívicas, ou reivindicativas do género.
Para a história e após os 48 de ditadura em que estes atos de expressão do descontentamento popular, ou de classe, era não só proibidos, como punidos com a prisão, fica a gigantesca manifestação do 1º de maio de 1974, a primeira em liberdade, a qual juntou na Fonte Luminosa milhares de pessoas de todos os quadrantes políticos, numa explosão de regozijo e rejeição à ditadura, celebrando a liberdade conquistada com a queda do regime, 7 dias antes, pelo movimento dos capitães. Foi o primeiro, 1ºde maio em liberdade, do qual ficaram grandes trabalhos de fotojornalismo expressos pelas imagens dos profissionais, eles próprios em “delírio” por puderem exercer a profissão sem medo, em liberdade. Fizeram história com um acervo de imagens icónicas, hoje parte do património histórico do país.
Sabendo-se integrar e aceitar pela multidão, o fotógrafo de forma calma e profissional, soube-se movimentar entre os manifestantes e assim captar alguns dos momentos mais genuínos da manifestação, num registo fotográfico, sem objetivos editoriais, simplesmente pelo desafio e o gosto pelo inesperado que situações do género proporcionam.
Neste conjunto de 6 imagens captadas uma vez mais a preto e branco, (marca do fotógrafo), tendo a Assembleia da República quase sempre como pano de fundo, foi possível “desenhar” o ambiente de forma gráfica, quer nos seus momentos mais intensos, ou noutro sentido mostrando os cartazes, as suas mensagens, caricaturas ou o improviso dos manifestantes em expor as suas mensagens. O homem do chapéu de chuva é disso um exemplo. Já a imagem do dirigente sindical ao microfone, permite pela sua linguagem gestual ter uma perceção da força que desejava imprimir à sua mensagem. A evocação de três grandes nomes da nossa literatura por uma manifestante, não deixa de ser também relevante e algo inesperado, no todo do ensaio fotográfico.

Engenheiro e Fotógrafo