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Sexta-feira, Maio 16, 2025

Leonor Baldaque – artista portuguesa que canta em inglês e escreve em francês dá concerto no Porto em fevereiro

Leonor Baldaque vai dar, no dia 22 de fevereiro, quinta-feira, um concerto ao vivo na Casa da Música, no Porto. Depois de ter participado em 12 filmes de Manoel de Oliveira, editado dois romances em França – o terceiro está quase aí -, surge a música e, com ela, o desafio dos grandes palcos. Os melodiosos temas como “Few Dates of Love”, “My New Drink” ou “This is Where” vão deliciar, seguramente. O regresso à "Invícta" sempre feito pela “porta grande”.

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Nunca tomei qualquer “decisão profissional”, a não ser dizer “não”, quando achava que a vida da minha alma estava em jogo. Tudo o resto, foi seguir o que chamava por mim, uma vida de artista, procura de liberdade, escrita, Arte. Com todas as alegrias e todos os sacrifícios que isso implica.”
Foi desta forma que a cantautora, Leonor Baldaque, respondeu quando a questionámos se o facto de ter nascido numa família virada para as artes – a sua é avó é Agustina Bessa- Luís – pesou nas decisões profissionais que tomou.

A maturidade e a personalidade de Leonor, não enganam. Respira arte. Construiu sozinha, fora do país, a sua carreira. Por cá, só a universidade e os filmes de Oliveira – e foram 12 ! – o resto, música e escrita, por aí, pelo mundo.
“Vivi em Paris, Roma, durante quatro anos, e voltei a Paris onde resido atualmente”
Por ser neta de quem é, pode ficar a ideia de que Leonor Baldaque já tinha a carreira feita e  encomendada. Mas não foi assim. De Agustina, recorda bons momentos familiares e pouco mais.
Era a minha avó…Trabalhava muito! Íamos todos os anos de férias para o sudoeste francês. Um mês inteiro. Era tão bonito. E o meu avô oferecia-me livros” 
Quer queira quer não, teve uma magnífica herança da avó…
Comecei a escrever muito nova. Lembro-me de ter uma prática de escrita desde  cedo.  Senti sempre que a minha vida ia ligar-se às artes. A escrita foi a primeira, a seguir o cinema… já nessa altura estava a estudar teatro e dança. E também violoncelo. Adorava desenhar!
Por que deixou o violoncelo, que começou aos 12 anos?
“Deixei aos 18 anos. Deixei por completo porque comecei a fazer cinema e tinha a universidade. Tinha chegado ao ponto em que uma pessoa sente, ou se torna profissional, ou não terá o gozo que poderia ter. Eu gostava muito de violoncelo, mas sentia que não queria ser instrumentista numa orquestra. Nem professora. Então, continuei a procurar…”

Leonor Baldaque/Direitos Reservados

Manoel de Oliveira

A música, a representação, a escrita. Uma continuidade artística?
“Uma continuidade, sem dúvida. Eu sou, acima de tudo, uma pessoa que escreve. Uma escritora, se quiser. Eu sou uma artista que escreve. E, a partir da palavra, do meu amor pelas palavras, pelo dizer, surge o resto.”

Leonor Baldaque, artista multifacetada. Que não decidiu, na maior parte das vezes, quando terminar e o que iniciar. O acaso em movimento.
O acaso, sempre o acaso, ou melhor, ouvir o que me chamava. É isso. Estar atenta e ouvir. E não fechar os ouvidos ao que nos chama. Isso é a parte mais difícil e mais bonita. E querer viver um certo tipo de vida. Por exemplo, cantar e compor surgiu uma noite de outono, em Paris, no meu quarto. Estava a tocar uns acordes no “ukulele”. E comecei a cantar. 
Todos os temas que vai apresentar-nos ao vivo são escritos e compostos por si.

O cinema e Manoel de Oliveira tornaram-se um marco muito importante na sua vida. Como surgiu a oportunidade de fazer cinema?
Um dia estava a assistir a uma conferência e o Manoel olhou para mim e disse: queres entrar num filme? Foi assim.
E foram 12 filmes com o “mestre”. Uma experiência inesquecível.
“Foi um sonho. Uma escola, um encontro, filmagens inesquecíveis. Muito importantes do ponto de vista humano. As pessoas, as viagens. O Manoel. Víamo-nos muito também em Paris, onde eu já vivia. O Manoel passava lá muito tempo a montar. Foi o primeiro homem que pegou na minha mão e, como diria o Régio, grande amigo seu: “Vem por aqui.”

As línguas

Leonor nasceu no Porto, em 1978; saiu de Portugal quando terminou a Faculdade. Tinha 22 anos. Destino: Paris.
“Saí logo a seguir à faculdade. Fui para Paris. Depois para Roma, onde estive quatro anos. Depois, novamente Paris. Estou sempre a mudar de casa. A minha única amarra verdadeira é a escrita e, agora, a guitarra. Sempre vivi da e para a Arte.

Portugal, principalmente para quem está ligado profissionalmente às atividades criativas e artísticas, não é um lugar fácil. E muitos optam por ir embora, à procura de melhores condições e oportunidades. No caso de Leonor Baldaque, é curiosa a explicação do motivo que a levou a abandonar Portugal.
“Eu saí quando percebi que não ia encontrar um homem que aceitasse a minha necessidade de liberdade e a vida de artista. Foi assim. Talvez existisse, não sei. Eu não encontrei. Mas adorava Paris. Principalmente, ser mulher em Paris. É maravilhoso. Apesar de todos os problemas que existem, de prepotência, abuso do poder e violência há, também, muitos homens evoluídos. Talvez em Portugal também haja, claro. Mas é um prazer imenso ser mulher em Paris. Os cafés, as conversas com homens – e mulheres – que liberdade, que respeito, que igualdade. A troca de saber. Foi o que mais me agradou em Paris. A circulação do saber nesse mundo artístico de esquerda. O saber circula, tenta criar uma sociedade livre. É inebriante. “

Escreve em francês e canta em inglês. Mas não tem qualquer má vontade em relação ao português. Apenas uma questão de identidade.
São as línguas que vêm ao meu encontro. Sonho em francês, leio muito em inglês. Vivi histórias de amor em outras línguas e isso determina quase tudo. E tenho uma atração sem limites pelo que é estrangeiro. Pelo outro. Pelo que não sou eu. Como se o português, língua tão bonita, fosse demasiado familiar. Habitualmente, não falo português e isso tem influência. Mas gosto muito da língua portuguesa. E de ler autores portugueses, em português. Gosto muito da prosa do Padre António Vieira.”

A determinação o foco no que é importante definiram o percurso da artista. Nem todos conseguiriam. Principalmente portugueses, para quem a palavra saudade está sempre no coração e na ponta da língua.
“Eu não ligo à saudade. Estou sempre a olhar para a frente. Também porque estou sempre a apaixonar-me e há tantas coisas por descobrir! Foi difícil o início, sim, mas não trocaria por nada.”

Ao vivo

Que expectativas para os concertos ao vivo em grandes salas?
“Fazer bem o meu trabalho. Estar presente. Como num filme. Ouve-se “ação” e temos de estar presentes. Além disso, estou muito feliz. É um prazer sem limites transmitir a nossa Arte. E estar com o público. Que descoberta! O cinema é tão distante. Adorei, mas é outra Arte.”

Few Dates of Love”, “This is Where”, “My New Drink”. Melodia, muita melodia e palavras. Três dos principais temas de Leonor Baldaque. Uma fusão de estilos. Um “mix” que funciona na perfeição. Um estilo que não escolheu, mas que convence.
Adoro blues. Adoro os primórdios da folk. Adoro Lightnin’Hopkins. E Cohen, Dylan, claro. Gosto de coisas muito diversas. De Mahler. De jazz. De Kate Bush ou PJ Harvey. Ouvi e ouço muita música diferente. E acho que a “escolha” do meu estilo, se lhe quiser chamar assim, surgiu do que eu tinha a dizer. Mais do que qualquer outra coisa, como se o que eu tinha a dizer encontrasse o estilo adequado.”

E a seguir, o que podemos esperar?
“Tenho de acabar o terceiro romance para a minha editora francesa que, felizmente, gosta das minhas canções e perdoa-me o atraso. Estou também muito contente, pois o meu segundo romance foi traduzido para português e sai ainda este ano em Portugal.”



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