Enquanto jornalista há mais de 40 anos, vivo hoje um dos dias mais tristes da minha vida. Não pude ouvir a rádio TSF como costumo fazer quase todos os dias. E porquê? Porque pela primeira vez em 35 anos de vida, a TSF desligou o microfone contra o “desrespeito” que existe contra os jornalistas profissionais que trabalham naquela rádio.
Fundada em 1988 por Emídio Rangel, a TSF é uma rádio de informação, com principal enfoque na atualidade política, económica, social e desportiva, procurando sempre ser útil e relevante para os ouvintes. Ou seja, a TSF foi uma rádio que mudou a rádio em Portugal. O lema que sempre moveu os jornalistas da TSF foi este: “Por uma boa história, por uma boa notícia, nós vamos ao final da rua, nós vamos ao final do Mundo”.
Mas hoje, durante uma greve de 24 horas, a TSF limitou-se a passar música. Confesso que recordei o dia 25 de Abril de 1974, em que que o meu pai deixou a rádio todo o dia ligado na taberna, para os clientes irem ouvindo o que se passava em Lisboa.
Mas o mais triste de tudo, foi ouvir a voz inconfundível e única do meu camarada Fernando Alves (quase a reformar-se depois de uma vida inteira dedicada à rádio!) informando os ouvintes do seguinte: “A programação regular da TSF está condicionada devido a uma greve de 24 horas dos trabalhadores desta rádio”.
O jornalista Fernando Alves consegue pintar com a sua voz inconfundível os “sinais dos tempos” que se vivem na TSF. Consegue trazer-nos a imagem de uma rádio em protesto: não há noticiários, não há notícias, não há notificações ou alertas. Pela primeira vez em 35 anos, e após vários meses de luta por melhores condições e por sinais de “desrespeito” pela administração da rádio, a TSF desligou os microfones.
Os trabalhadores da TSF exigem apenas e só melhores condições de trabalho e mais respeito. Um deles, Filipe Santa-Bárbara, espera que “a paralisação sirva ainda de exemplo para que a classe jornalística olhe mais para as suas próprias dificuldades”.
Mas que classe camarada Filipe Santa-Bárbara? Há muito que esta classe perdeu a classe. Sei do que falo. Infelizmente. E os tempos que se avizinham vão ser ainda piores, pois os caciques, os bufos e comissários políticos infiltrados das administrações e do Governo, entram com pezinhos de veludo nas redacções e infernizam a vida a todos os jornalistas profissionais que procuram praticar um jornalismo livre.
A greve dos trabalhadores da TSF vai durar 24 horas. Tempo mais do que suficiente para que as autoridades competentes e o próprio Governo possam reflectir o que se passa na maioria dos órgãos de comunicação social em Portugal Continental, nos Açores e na Madeira.
Permitiram que alguns empresários sem escrúpulos fosse adquirindo diferentes órgãos de comunicação social e os resultados começam a surgir.
Esta paralisação na TSF é de certa forma uma luta pelo jornalismo independente, livre e pelo jornalismo com condições básicas de respeito por parte das entidades patronais. Mas talvez seja o momento de os jornalistas repensarem o seu futuro e preparar uma “revolução”. Para que esta classe volte a ter classe!
“Portugal não tem uma grande tradição de cobertura do setor dos média, não se fala de jornalismo. Quantas vezes nós damos as greves de tantos setores e tantas empresas, e nunca falamos dos nossos problemas e daquilo que nos atinge. E se o jornalismo é um pilar da democracia, e tantos alertas que o Presidente da República já fez acerca da necessidade de defender o jornalismo, caramba, penso mesmo que está é mesmo a forma de mostrarmos que estamos aqui, estamos vivos, e queremos continuar aqui, mas deixem-nos continuar a trabalhar. É um grito que mistura revolta com frustração, mas também com vontade de fazer mais”, afirmou com determinação o jornalista Filipe Santa-Bárbara.
O problema camarada Santa-Bárbara é que esse Pilar da Democracia começa a mostrar algumas fissuras e um destes dias poderá desabar. Já faltou mais.
A Luta por um Jornalismo Livre e sem Censura continua. Pelo menos aqui neste projecto O Cidadão. Aqui fica a minha solidariedade para com os companheiros da rádio TSF.
* Nota da Redação: O autor escreve segundo o antigo prontuário ortográfico.
Editor