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Quarta-feira, Janeiro 22, 2025

Joaquim Jorge: “Portugal precisa de uma revolução de atitudes e mentalidades”

Joaquim Jorge é muito mais do que o fundador do Clube dos Pensadores e professor de Biologia. Um comunicador por excelência. Em todas as vertentes. Polémico e frontal. Gosta de dizer o que pensa, sem cair na vulgaridade. “As pessoas confundem a personalidade forte com mau feitio” – está dado o mote.

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Eu digo que “não” e, depois, não aceito que me mandem calar, achando eu que vou falar educadamente. Não aceito que me menosprezem.”
Sem possuir grandes conhecimentos de psicologia, percebemos estar perante um cidadão diferente. “Comer e calar” não faz, seguramente, parte do seu leque de experiências pessoais.

É professor de Biologia em Vila Nova de Gaia, onde reside há muito; apesar de ter nascido em São Mamede de Infesta, no vizinho concelho de Matosinhos, cedo foi para o Colégio Brotero, na Foz do Douro, no Porto. Entrou a meio da 2ª Classe do Ensino Primário, como se chamava na época.
“Ir para o “Brotero”, na Foz, a meio da segunda classe foi violento, mas foi interessante. Aprendi a comer à mesa e a ter maneiras”
Colégio Brotero que nunca mais esqueceu. Nem o número nem os colegas.
Eu era o 77. Toda a minha roupa tinha o número 77! Foi, precisamente, porque estava numa turma de elite – não intelectual, mas económica – que conheci o Ruca, filho do dono da RAR, o Valentim de Carvalho, o Serôdio, o Arsénio Marta, o Rui Moreira -presidente da câmara – e tantos outros. E foi por estar no colégio, com colegas destes, que tive acesso ao disco dos Beatles antes dele sair”.

                                                          Cidadania

Não encontramos todos os dias pessoas da área científica que fundem uma organização para entrevistar personalidades em direto. No Clube dos Pensadores já vai na 135ª. Com êxito. Tem dado a palavra a gente de todas as áreas. Num dado momento, percebeu que fazer o Clube dos Pensadores, voluntariamente, era um serviço para a sociedade.
Tenho 66 anos. Com esta idade já tive várias “vidas”. Todos os dias morre qualquer coisa de mim. Ou vejo pior, ou dói-me isto, ou durmo pior ou esqueço-me de qualquer coisa. Mas aos quarenta e tal anos fui a uma reunião, vi algo que estava a passar-se e não gostei. Disse que queria intervir, não permitiram porque estava ali o chefe. E, portanto, não podia falar. Sou contra este tipo de coisas.”

Ser impedido de falar, tornou-o um cidadão mais interventivo socialmente. E, a partir dali, nunca mais deixou que o calassem.
As pessoas têm de ser tratadas com respeito, mas somos todos iguais. No Clube dos Pensadores faço isso. Estamos no “país do respeitinho”. O António Maria Carrilho veio ao Porto, foi muito simpático, mas eu disse-lhe logo que íamos tratar-nos todos pelo nome. Uma vez um convidado meu disse: Joaquim Jorge, eu agora vou entrar e levantam-se todos. Mas levantam-se porquê? -perguntei . Estão aqui na assistência professores, juízes, advogados…é preciso colocar as pessoas nos seus devidos lugares. Tem de ser assim. Depois, levo com os rótulos de pedante, convencido, de que tenho a mania…”

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Foto de António Proença


                                                          Política

Toda a vida fiz política, sem ter estado na política” – É desta forma que Joaquim Jorge resume a sua candidatura à Câmara de Matosinhos. E prossegue – “Fui escolhido pelo PSD e, depois, fizeram-me a “vida negra”. Fui votado, aceitaram-me, mas alguém procurou dar cabo da minha candidatura. E acabei por não ser o candidato do partido.”
E neste retalho de vida, provou que não admite atropelos e faltas de respeito desta natureza. Avançou sem apoios.
“Concorri em Matosinhos como independente. Para provar que podia ser candidato e não precisava de ninguém, muito menos dos senhores do partido . A minha candidatura foi notável e com parcos recursos. Em tempo de pandemia, arranjar 15 mil assinaturas e concorrer contra tudo e contra todos é excecional! O objetivo não foram os resultados, mas chamar a atenção para determinados assuntos Portugal precisa de uma revolução de atitudes e mentalidades.”

Concorrer como independente é difícil. Mas há exceções.
“É pouco comum os independentes terem sucesso. O processo burocrático é tão grande! E explicar às pessoas que dão as suas assinaturas para que possamos concorrer e não para apoiar-nos? Émuito difícil. Os movimentos independentes têm poucas hipóteses. O Rui Moreira teve porque é rico, foi apoiado pelo Rui Rio e pelo CDS. Não lhe quero tirar mérito, mas criaram-se determinadas condições que o ajudaram. Quanto ao Isaltino de Morais, em Oeiras, até na cadeia, se concorresse, ganhava. Estava na politica e depois zangou-se com o seu partido”.
E o perfil crítico de Joaquim Jorge não demora…
A lei permite que os independentes concorram, mas criando todo o tipo de obstáculos. E eu não concorro para aparecer num cartaz, não preciso disso. Tenho uma vida, faço coisas por prazer. Quando deixar de o ter, deixo de fazer.

                                                          Sugestão

Crítico, acutilante, apaixonado pela intervenção social. O primeiro- ministro também já ouviu uma sugestão de Joaquim Jorge.
Temos de saber o que nos faz bem e mal. Aproveitar a vida, mas fazer pausas, praticar desporto, cuidar da prevenção das doenças. Eu fico barato ao SNS e disse ao António Costa. Uma das propostas que lhe fiz foi a obtenção de um bónus – nem que fossem cem euros para umas sapatilhas – a quem fizesse prevenção. Ele ouviu e disse-me que era interessante, mas a dificuldade seria controlar isso. Achou piada. Mas há tanta coisa que é preciso fazer antes!”

Escrever, intervir, sair do sofá e fazer. Atento ao que se passa, opina sobre diversos temas. No “Record”, por exemplo, têm uma coluna de opinião há muito tempo. A prática do desporto sempre foi uma paixão. Andebol e futebol. FC Infesta e Académica de São Mamede. Federado até aos 46 anos em equipas de futebol de salão- veteranos. Hoje, com muita mágoa, está “lesionado”. Procura evitar que a sua pubalgia degenere em hérnia.

Joaquim Jorge não está na vida para a ver passar, mas para viajar nela, ser ativo e participar, sempre, de forma positiva

Texto: A. Jorge Santos         Fotos: António Proença

 

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