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Segunda-feira, Setembro 9, 2024

Insatisfação com a democracia – Por Joaquim Jorge (Biólogo/ Clube dos Pensadores)

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Joaquim Jorge
Joaquim Jorge
Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores

Eu estou farto de abordar este assunto sobre desinteresse, insatisfação e desprezo pela democracia, mas pode ser que alguém leia e seja bem-vindo ao clube. Sinto-me como um tolo no meio da ponte, a minha consciência diz-me que não posso deixar de dizer o que me vai na alma, por outro lado, não vale a pena é uma luta em que me sinto um pouco solitário, em que fico a falar sozinho.

Eu estou muito insatisfeito com a democracia e alarmado com a abstenção. Algo que só se fala quando há eleições. Porventura, é meia dúzia que se preocupa com isso, o resto vive noutra onda e pouco se importam. Se calhar eu é que estou errado.

Os partidos políticos são plataformas e aparelhos que determinam o que fazer na política e menos fóruns de ideias e de debate.

Como diz Michel Maffesoli, « o político é o contrário do que é a democracia; agora são uns poucos, uma aristocracia, quem governa» . Esta saturação e insurgência para com os partidos e políticos além de levar à indiferença pode levar à ruptura do sistema.

Precisamos de cidadãos informados para que não sejam manipulados.

Um estudo dado a conhecer há algum tempo, A Qualidade da Democracia: a Perspectiva dos Cidadãos da autoria de António Costa Pinto e Pedro Luís de Sousa e Ekaterina Gorbunova, mostra que a insatisfação com a democracia está a aumentar – só 56% acreditam que a democracia é o melhor sistema político.


O pior defeito da democracia é o chamado «picos de cidadania», em que as pessoas vão votar. Pronto, já está! Esquecem-se que, depois, há um trabalho constante de informação e questionar quem elegemos, daí o voto é uma maneira muito “naïf” de participar.

O voto é uma maneira muito pobre de saber-se o que as pessoas querem e desejam. A sociedade civil deve funcionar como contrapeso em relação às decisões políticas. Os partidos políticos são muito pouco flexíveis para incorporar a voz da cidadania. A democracia carece de contrapesos, de formas e fórmulas de controlo, de transparência, de participação de cidadania.

A falta de confiança e respeito nos políticos deve-se aos seus exemplos pouco edificantes.
O exemplo do nosso poder tem que ser igualado pelo poder do nosso exemplo.

As instituições públicas devem estar ao serviço das pessoas e não ao serviço de interesses e objectivos particulares e partidários.

Os protagonistas têm que ser os cidadãos com as suas exigências, essa é a forma de lutar contra o desinteresse, a desconfiança e a abstenção.

Os cidadãos acreditam cada vez menos nos políticos, sendo prova disso a fraca participação em actos eleitorais.

Devemos estar todos preocupados, contudo a lei eleitoral permite que sejam eleitos com 10% dos votantes ou menos.

Ao abster-se, as pessoas estão a dizer que estão furiosas, indignadas, não confiam em nenhum político, não os querem, não nos servem.

A sua legitimidade está diminuída e é mais um aviso para este sistema político, caduco, decrépito e ególatra.

Perante uma abstenção tão elevada e sempre a subir as eleições deveriam ser anuladas e dar-se início à mudança na lei eleitoral. Os portugueses repudiam esta forma de fazer política em que os políticos parecem autistas e não ligam absolutamente nada ao que se passa à sua volta.

A abstenção está a dizer alto e bom som para quem queira ouvir: “não gostamos desta democracia e as eleições converteram-se numa farsa”.

Ao não  ir votar está-se a fazer uma forma de protesto por omissão. Esta democracia, o sistema e os seus actores, a maior parte das vezes, não vão de encontro aos cidadãos e os cidadãos não se revêem nesses líderes e protagonistas.

O dever dos políticos é ir de encontro dos cidadãos e estimular a sua participação. Os políticos devem exercer os cargos públicos com ética e rigor deontológico. Se não o fazem, há o direito de ir votar, mas também o direito de não ir votar conscientemente, e não, por comodismo.

Os políticos, o que prometem deveriam cumprir e executar, de outra forma, deveriam ser penalizados. Um cidadão não tem como tirar um político do seu cargo, somente no fim do seu mandato pelo voto, se ele mentiu e foi enganador durante a vigência desse mandato.













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