Foi bonito o dia das eleições no FC Porto, sem incidentes e uma participação massiva dos sócios. Foi bonito porque a democracia funcionou, num clube que tem nos seus estatutos: um sócio – um voto. Mais democrático do que isto é impossível!
Foi bonito ver a estrondosa vitória de André Villas-Boas, em que a maioria das pessoas ficou incrédula e não estava a contar tal diferença. A incerteza pairou sempre no ar, a ideia que se tinha é que as eleições iriam ser disputadas taco-a-taco, com uma enorme dose de dúvida.
Foi bonito porque o 25 de Abril chegou ao FC Porto no dia 27 de Abril. A liberdade de pensamento e a liberdade de expressão venceram o medo.
Foi bonito ver uma vitória histórica e quem manda do FC Porto são os sócios. Venceu a decência.
Foi bonito ver a postura de André Villas-Boas, sem espaventos de triunfalismo, muito compenetrado que vêm aí dias difíceis para arrumar a casa.
Foi bonito ver André Villas-Boas junto aos sócios na bancada, mostrando que o FC Porto é dos sócios e não de alguns iluminados pseudo-poderosos.
Foi bonito ver esta estrepitosa vitória, que não apaga a obra de Pinto da Costa, mas sinaliza o começo de acrescentar à obra, de outro modo e de forma diferente.
Foi bonito André Villas-Boas nunca demonstrar medo e ter a convicção de que o FC Porto precisava de mudar e avançar.
Como tudo na vida, os lugares não são “ad aeternum” e os clubes deveriam ter nos seus estatutos limitação de mandatos.
Foi triste ver que Pinto da Costa não percebeu que a sua grandeza passaria a mito, se tivesse saído pelo seu próprio pé, evitando esta severa derrota
Foi triste ver Pinto da Costa na hora da derrota com meia dúzia de beligerantes à volta do carro.
Foi triste ver o frenesim da sua campanha para tentar colmatar danos que se vinham agravando há muito tempo.
Foi triste ver que Pinto da Costa estava refém de muitas relações danosas ao clube.
Foi triste ver o aumento de importância de figuras que andavam à volta de Pinto da Costa.
Foi triste ver a política ir para o futebol com o apoio de Manuel Pizarro, assim como a Igreja ir para o futebol com Américo Aguiar.
Sempre fui e sou a favor de que não se devem misturar as coisas.
Não se pode servir vários senhores ao mesmo tempo.
Foi triste ver que Pinto da Costa estava refém de um exército pretoriano em que o seu general foi preso.
Foi triste ver que Reinaldo Teles fez-lhe muita falta.
Foi triste ver tudo o que aconteceu naquela Assembleia Geral.
Foi triste ver o apego ao poder.
Esperemos que se torne bonito e não triste, a transição de poder, que não seja preciso uma auditoria às contas do FC Porto e à gestão dos últimos anos.

Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores