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Sábado, Maio 4, 2024

Escritor José Rodrigues divulga “O Quinto Pescador” e partilha retalhos de vida

A FNAC de Sta. Catarina acolheu, na quarta-feira passada, dia 17 de abril, a apresentação do mais recente livro publicado sob a chancela da "Porto Editora", pelo autor José Rodrigues. A apresentação, inserida nas atividades do Clube de Leitura "Mil Folhas", coordenado por Manuela Oliveira, contou com o apoio da editora e do Jornal "O Cidadão". Em amena tertúlia, o escritor partilhou o início da sua jornada com os livros, a relação com a "Porto Editora" e momentos da sua vida pessoal.

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Teve lugar na passada quarta-feira, dia 17 de abril, passada, na FNAC de Sta. Catarina, a apresentação do último de seis livros publicados sob a chancela da “Porto Editora”, do autor José Rodrigues. A apresentação estava inserida numa das atividades do Clube de Leitura “Mil Folhas”, coordenado pela Dra. Manuela Oliveira e teve o apoio da editora e do Jornal “O Cidadão”. 

A apresentação inicial foi levada a cabo por Rui Paulo Costa, em representação de “O Cidadão”.

Após esta introdução, o evento decorreu em amena tertúlia, onde o escritor explicou como começou a sua odisseia com os livros, a relação com a “Porto Editora”, bem como situações da sua vida particular. 

Quando fez 40 anos, sentiu de um dia para o outro as mazelas no corpo, por ter jogado futebol muitos anos, em campeonatos pouco meigos e a uma prática exagerada e tardia de Karaté. O seu médico deu-lhe a escolher entre medicamentos e natação; desportista, que sempre foi, aceitou o desafio da segunda opção, apesar de ter sido obrigado a passar por um penoso período de aprendizagem. 

José Rodrigues
Foto de António Proença

Com este assumir da passagem à meia-idade, o autor agora com 54 anos, induz-nos numa visão “Shakespeariana”  da vida, expressa no monólogo do personagem Jaques, em “Como Gostais” (As You Like It), onde o dramaturgo descreve as sete idades do homem. José Rodrigues, embora reduzindo-as a três, gosta de misturar pessoas de várias idades, sobretudo pessoas imperfeitas, reais como nós, em processo de aprendizagem e aperfeiçoamento. 

Explica-nos, “uma manhã estava num oftalmologista e uma senhora de idade em dificuldades perguntou-me, o “menino” podia-me ajudar? E eu, o “menino”? Está bem! Nesse mesmo dia, fui ao médico mostrar uns exames e ele, virando-se para mim, disse – Ó Zé, tu com estas análises estás um “jovem”! Eu fui almoçar e comecei a pensar. Bem, acordo menino, já sou jovem, agora é hora de almoço, vamos lá ver como é que isto acaba!” 

Ao fim do dia tinha natação. Na minha turma, as pessoas são mais ou menos da minha idade, e o professor anunciou, que, nesse dia,  iríamos mergulhar! Eu fui o primeiro; dei um grande mergulho. Quando estava a sair pela escadaria da piscina, veio um menino, realmente pequenino, ter comigo, aponta-me o dedo e diz, o “senhor” se não quer ficar com o peito tão vermelho, tem de dar um impulso, meter a cabeça entre os braços, dar um salto e vai ver que dá um mergulho impecável. No salto a seguir, segui exatamente as recomendações do menino e o salto saiu extraordinário”. – conta-nos o autor.

José Rodrigues confessa-nos que à noite procede sempre a um período de reflexão, onde analisa o que aconteceu ao longo do dia. Eventualmente, alguma fala que tenha dito mal a alguém, um pedido de desculpas que deva ou até uma chamada que não tenha atendido. De certo modo, faz um resumo mental do que realizou certo ou errado e do que pode ou não melhorar. “De fato estava a pensar como a vida é extraordinária, acordo como menino, passado umas horas sou jovem e à noite sou senhor, mas o mais importante de tudo foi que ensinei como menino e aprendi como senhor”, remata magistralmente.  O fato de os mais velhos poderem ensinar os jovens, tanto quanto podem aprender com eles, é um pensamento sempre vivo na sua obra. 

O tema “memória” e tudo o que ela representa, é de crucial importância para o autor por estar sempre presente no nosso quotidiano. “Parte do nosso pensamento vai buscar memórias mais recentes ou mais antigas. Aquelas que recordamos com saudade, algumas delas que ainda hoje nos causam alguma dor. Acho que somos as nossas memórias. Temos de cuidar da nossa memória hoje, os afetos que cuidarmos hoje são aqueles que lembraremos amanhã. Sou até um pouco radical e penso que, um dia mais tarde, quando nos faltarem as nossas forças, a memória será tudo o que teremos para tornar o nosso dia a dia mais suave.” 

Nestas sessões costumam perguntar -lhe porque escreve livros? “Às vezes começo a fazer um inventário, porque é que realmente escrevo: “Para me libertar do stress; para exorcizar alguns fantasmas; para manter o espírito criativo; para falar com pessoas; para ir aos mais diversos sítios; para contatar com outros autores; sei lá mais. Começo a ver os vários motivos, à medida que me vou lembrando, vou puxando para a infância, juventude, idade adulta ou mesmo momentos recentes, porque acho que tudo, tudo o que eu vejo e vou observando me vai ajudando a escrever.” 

O Quinto Pescador

Neste romance, “O Quinto Pescador”, José Rodrigues conta uma história simples, com um bom ritmo narrativo, amarrando-nos completamente à leitura. Começa por um homem, Francisco, que perde a sua mulher e os dois filhos, no dia do seu aniversário. Está completamente devastado e à beira de terminar voluntariamente com a sua vida.  

Diz-nos o autor, “para mim a simplicidade é uma coisa muito importante, porquê? Porque coincide com a minha forma de pensar, e eu penso que isto acontece com muita gente; à medida que o tempo vai passando, vamos dando importância às coisas mais simples. Quando damos conta, entramos num processo de tal simplificação que nos parece impossível, como é que nós, quando tínhamos menos idade, achávamos que era tudo muito complicado ou melhor, o que era complicado é que era o mais importante na nossa vida. “Se calhar”, “se bem que”, as coisas só têm a importância que nós lhes quisermos dar!, mas eu reparo muito nisso e a pandemia ajudou-me muito, nomeadamente a questão do abraço. É uma palavra que eu reforço muito no livro. Nós, na pandemia, ficamos impedidos de nos abraçarmos uns aos outros e não há forma de afeto mais simples do que o abraço e o fato de ficarmos privados!…. Como é possível isto acontecer-nos? A mim chocou-me, andei até algum tempo a ver as pessoas pela janela, na janela, isto é uma coisa!… Essa questão pelo qual o Francisco passou e as pessoas que não sabiam os motivos reais que o levaram até ali, acolheram-no, deram-lhe colo, às vezes damos colo a alguém e não sabemos da importância do colo que estamos a dar. Para nós, dar colo, até pode ser uma coisa natural, mas na pessoa que o acolhe pode fazer a diferença.” 

Apesar de toda simplicidade preconizada pelo autor, não deixa de surpreender-nos ao construir uma narrativa, cujo título de cada capítulo nos remete para a forma de um diário, com a duração aproximada de nove meses que é o tempo de gestação de um ser humano e nós, sem quereremos contar a história, aconselhamos vivamente a leitura. É como se fosse dada, a Francisco, uma segunda oportunidade de viver. 

José Rodrigues tem também uma relação sinestésica com os aromas e conta, “um dia estava a escrever um capítulo de um outro livro e senti o aroma inconfundível da maçã Bravo de Esmolfe de Penalva do Castelo e não tinha essa maçã lá em casa. Acho que os livros nos conseguem trazer essas coisas e isso também é importante.” 

Acha que para ele a escrita é uma terapia e terminou com uma confissão, “gostava muito de escrever um romance histórico, mas exige um tempo que eu não tenho, há coisas que não podem ser ditas, já apanhei alguns romances históricos de pessoas muito conhecidas com gafes. Acho que até tinha algum jeito para escrever um romance histórico, mas exige um tempo. Quem escreve um romance histórico, para fazer uma coisa bem feita tem de fazer muita pesquisa.” 

Enquanto não sai um novo romance, histórico ou não, fica aqui o poster da próxima  apresentação que o José Rodrigues irá fazer.

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Direitos Reservados

Reportagem de António Proença e Rui Paulo Costa

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