Bóbi, o rafeiro alentejano considerado o mais idoso cão do mundo, morreu há dias aos 31 anos e foi mais uma vez notícia mediática por causa da sua provecta idade, compreensivelmente.
Tão rara longevidade canina suscita curiosidade quanto às suas causas, a qualquer pessoa. A mim em particular por ter como animal de companhia um Teckel que, aos 13 anos (a inversão dos dígitos é uma curiosa coincidência), revela já evidentes e acentuados sinais de velhice e sequelas de diversos problemas de saúde, apesar de ter sido criado e mantido com todos os cuidados que requeria.
Algumas das muitas notícias sobre a morte do Bóbi aludiram ao facto de ter sido sempre alimentado com comida fresca, confeccionada pelos seus cuidadores. Isso trouxe-me à lembrança a idosa mulher lituana que eu costumava encontrar frequentemente nos meus passeios com o meu cão à beira-mar, manhã cedo. Ela percorria todos os dias o areal com ligeireza, na companhia das suas duas cadelas Teckel.
Enquanto os nossos cães aproveitavam o encontro para brincar endiabrados, nós dávamos dois dedos de conversa.
Um dia perguntou-me com o que é que eu alimentava o meu cão e eu respondi que o fazia com ração seca da marca que me tinha sido indicada pelo veterinário. Ela reagiu com surpresa e admoestou-me, inquirindo como era possível que, vivendo eu num país onde é fácil encontrar produtos frescos, em matéria de legumes, peixe e carne, desperdiçasse essa oportunidade de alimentar melhor e adequadamente o meu cão. E sumariamente descreveu a dieta algarvia das suas cadelas que ele mesma confeccionava, combinando aqueles produtos.
Não mudei a dieta do meu cão, mas fiquei a pensar no que me disse e nunca o esqueci. A notícia da morte do Bóbi e da sua dieta veio avivar mais uma vez aquela advertência prudente.
Anos depois, a prescrição especializada de outros veterinários altamente qualificados, fui mudando de tipo e de marca de ração para tornear as alergias que o meu cão alegadamente teria desenvolvido a umas e outras. A ração é demasiado tentadora, não dá trabalho, está pronta a servir e o respectivo mercado florescente é prova disso.
Eu não devia ter ignorado durante tanto tempo que o meu cão adora desde sempre «comida de panela», como diz uma nossa vizinha brasileira. Agora é tarde para recuperar tanta oportunidade perdida de favorecer uma longevidade como a do Bóbi ou quase.
Desculpa lá, ó cão.
Jurista