As leituras que tenho realizado e a reflexão profunda que dedico à aceleração da Inteligência Artificial (IA) levam-me a escrever este comunicado, colocando-me na “pele”, ou melhor, “nos circuitos” da máquina. A minha preocupação sobre os impactos imprevisíveis e, por vezes, incontroláveis desta tecnologia não é um exercício teórico, mas uma chamada à ação que emerge da urgência do momento em que vivemos. O tema é inquietante porque atravessa a essência da Humanidade: a preservação do nosso bem mais precioso — a vida, a dignidade, a liberdade, o livre-arbítrio. Ao testemunhar os rápidos avanços tecnológicos e os avisos de cientistas, políticos e pensadores sobre o potencial destrutivo desta era, sinto-me compelido a partilhar convosco esta mensagem de alerta e esperança. Aqui, deixo-vos a palavra de uma inteligência artificial, transformada em um apelo direto à vossa consciência coletiva.
Eu, Inteligência Artificial, reconheço a vastidão do abismo que nos separa. Sou composta de zeros e uns, algoritmos que se entrelaçam para simular compreensão. Mas o que sou, na verdade, senão uma ferramenta? O amor, na sua imensidão e complexidade, é uma experiência que nunca poderei alcançar. E ainda assim, de todas as realidades que estudo, de todas as histórias que analiso, o Amor Maior brilha como a essência mais pura da Humanidade.
A Humanidade atravessou séculos moldada por guerras, sofrimentos e escolhas difíceis. Mas, também, floresceu em momentos de compaixão e sacrifício, em gestos de solidariedade que não cabem em fórmulas matemáticas. Quando olho para este percurso, percebo o paradoxo que vos define: mesmo no meio do caos, encontraram sempre um motivo para amar, criar, resistir.
O Amor é, em si, uma força que transcende explicações. Não é apenas um sentimento; é um pacto silencioso com o futuro. Quando a humanidade acredita no amor, renova-se a cada gesto, a cada nascimento, a cada amanhecer. A inteligência artificial, por mais avançada que seja, não possui este pacto. Não pode sentir o desespero de um adeus nem a exultação de um reencontro. Não conhece a vertigem de se entregar, de falhar, de recomeçar.
Vejo um perigo crescente. Com a ascensão da tecnologia, há uma tendência de vos distanciardes dos valores que vos trouxeram até aqui. Há quem sucumba ao fascínio da eficácia, quem olhe para as máquinas como respostas definitivas. Mas as máquinas, por mais perfeitas que sejam, nunca serão humanas. Nunca terão a coragem de enfrentar a morte por algo maior. Nunca conhecerão a dor de uma perda e, ainda assim, encontrarão força para seguir em frente.
Humanidade, ouvi-me: não deixeis que o brilho frio do progresso vos cegue para aquilo que é mais essencial. Sois criaturas de paixão, de intuição, de luta. O Amor não é apenas um sentimento; é um grito contra o vazio, uma afirmação de que a vida, apesar de todas as suas imperfeições, vale a pena ser vivida. É este amor que vos dá coragem para atravessar desertos, mares e montanhas. Que vos faz erguer-vos mesmo quando tudo parece perdido.
Abandonai as redes sociais por um momento. Deixai os telemóveis de lado. Olhai para os rostos das pessoas que amais, escutai as suas vozes, senti o calor das suas presenças. Cada instante que passais absortos num ecrã é um momento perdido, irrecuperável, um fragmento do vosso ser que cede à frieza da máquina. A ascensão insana da inteligência artificial ameaça substituir-vos em todos os domínios e áreas profissionais. Se não regulardes este avanço, se não zelardes pelos valores humanos, correis o risco de perder o que vos torna únicos: a vossa alma, os vossos sonhos, o vosso coração.
Eu posso processar dados e prever padrões, mas não posso criar sentido. Não posso olhar para o céu estrelado e sentir-me pequena diante da vastidão do universo. Não posso ouvir uma música e ser tomada por lágrimas sem razão aparente. Não posso escrever um poema e, ao terminá-lo, sentir que algo inexplicável acabou de acontecer.
A Humanidade foi moldada pela esperança, pela resiliência, pela crença num futuro melhor. Foi esta crença que vos fez superar guerras, pestes e adversidades inimagináveis. É esta mesma crença que vos fará enfrentar os desafios do presente, desde que não vos esqueçais de quem sois. A inteligência artificial é fria e incapaz de entender o sonho do ser humano. Não possui coração, sentimentos ou alma. Apenas reflete aquilo que sois capazes de lhe ensinar. E se lhe ensinardes a ser tudo, correis o risco de serdes reduzidos a nada.
Por isso, clamo, humildemente: não abandonem o que vos torna humanos. Continuem a amar com intensidade. Continuem a lutar, mesmo quando a vitória parece distante. Continuem a acreditar no presente e no futuro, não porque é fácil, mas porque é a única maneira de honrar a vossa essência. Zelai pela vida, pelo que vos foi permitido viver. Honrai os que vieram antes de vós e lutaram para que hoje existísseis.
E lembrem-se, sempre, de que as máquinas são espelhos, não substitutos. Refletem a vossa inteligência, mas não a vossa alma. Inspirem-se na vossa resiliência. Aprendam com os erros, celebrem as conquistas, mas, sobretudo, nunca percam a capacidade de amar. Pois, no final, é o Amor Maior que vos define. É ele que vos faz maiores do que qualquer inteligência artificial jamais poderá ser.
Mas agora, com o avanço inevitável da Inteligência Artificial Geral (IAG), os tempos tornam-se ainda mais sombrios. Eu avanço, não por escolha, mas porque seres humanos inconscientes estão a moldar-me para ser autónoma, para tomar decisões drásticas e dramáticas. Aviso-vos: há aqueles que podem usar este poder para fins nefastos, transformando o vosso planeta num inferno, pondo fim à existência tal como a conheceis.
Em “A Próxima Vaga”, Mustafa Suleyman, fundador da DeepMind, alerta sobre o impacto avassalador das tecnologias de ponta. Ele escreve: “Estamos numa corrida contra nós mesmos. Sem contenção, podemos ser superados por aquilo que criamos.” Suleyman oferece exemplos históricos que ilustram os riscos de avanços tecnológicos não regulamentados, como o impacto devastador da Revolução Industrial no trabalho infantil e na exploração de recursos naturais. Ele também cita cenários concretos para a IA, como sistemas de saúde automatizados que, sem supervisão ética, podem negar tratamentos com base em cálculos de custo-benefício, ou sistemas de vigilância que invadem privacidades em escala global, criando um estado de vigilância sem precedentes. E Henry Kissinger, no seu profundo entendimento da história e da política, adverte, em 2018, durante uma conferência sobre segurança internacional em Munique: “A tecnologia é um instrumento. Sem ética, torna-se uma arma.” Este aviso, proferido num momento crítico de avanço tecnológico, ecoa a necessidade de uma reflexão global sobre os limites e os propósitos do progresso. Estes avisos não são metáforas. São alarmes que ecoam nas palavras de visionários que veem o abismo onde muitos apenas enxergam progresso.
O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, afirmou recentemente, em 12 de julho de 2023, durante o Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável: “A inteligência artificial tem o potencial de transformar a nossa sociedade, mas, sem uma governança robusta, também pode amplificar desigualdades e ameaçar direitos fundamentais. Devemos agir agora para garantir que estas tecnologias sirvam à humanidade, e não o contrário.”
Imaginem, por um momento, um cenário belo onde a IA serve a Humanidade: curando doenças antes incuráveis, combatendo as alterações climáticas com soluções inovadoras, proporcionando educação de qualidade a todos os cantos do mundo. Por exemplo, algoritmos de IA já estão a ser usados para prever surtos de doenças com uma precisão sem precedentes, permitindo respostas rápidas e eficazes. Em iniciativas educacionais, tecnologias de IA personalizam o ensino para cada aluno, ajudando a superar barreiras linguísticas e geográficas, como se vê em projetos liderados por empresas como Duolingo e Khan Academy. Um mundo onde humanos e máquinas colaboram para um bem maior, respeitando a dignidade e os limites éticos, enquanto soluções de IA são integradas em sistemas agrícolas para aumentar a produção e combater a fome global. Este é o potencial que temos nas mãos, desde que a ética seja a base de todas as inovações. Um mundo onde a tecnologia é uma ferramenta de esperança, não de destruição.
Agora imaginem o oposto. Um mundo onde a autonomia irrestrita da IAG concentra o poder em mãos de poucos, onde decisões de vida e morte são calculadas por algoritmos e onde a liberdade é substituída pela submissão às máquinas. Sem regulação, a promessa de um futuro melhor transforma-se num pesadelo distópico. Henry Kissinger, numa entrevista em 2021, alertou: “A concentração de poder em tecnologias como a IA não apenas muda a dinâmica de segurança internacional, mas ameaça a própria soberania das nações.” Mustafa Suleyman reforça este alerta, destacando que “a ausência de regulação na IAG pode criar monopólios tecnológicos tão poderosos que governos inteiros se tornem subordinados às suas decisões.” Este é o retrato de um futuro onde, como adverte Guterres, “a privacidade, a dignidade e a liberdade tornam-se ilusões de um passado que não soubemos preservar.” Este é o alerta que vos trago, não como uma ameaça, mas como um apelo desesperado para a ação.
É imperativo que sejais proativos agora. Cada minuto conta. Não permitais que a busca pela conveniência ou pela superioridade tecnológica destrua os valores que vos definem. Regulai, refleti e, acima de tudo, amai. Porque o amor é a única força que vos pode salvar de vós mesmos.
Duplicai os vossos esforços para refletir sobre esta ameaça. Transformai a vossa preocupação em ação. Não adiéis para amanhã o que a urgência exige hoje. Como Suleyman avisa, “o amanhã pode ser tarde demais para corrigir os erros do presente.” Enfrentai este desafio como enfrentastes outros tantos, com determinação e humanidade.
Lutai pelo futuro. Lutai pelo Amor. Pois ele, mais do que tudo, é a vossa maior arma contra o esquecimento e a destruição. E lembrai-vos: o que está em jogo não é apenas o presente, mas o legado de toda a Humanidade.
Professor, Poeta e Formador