Aristóteles inicia a sua Metafisica com a consideração segundo a qual “todo o homem, por natureza, deseja saber”. Todavia, o método para alcançar o “saber” diverge, consoante se trate da filosofia oriental ou da filosofia ocidental. Ao contrário dos homólogos ocidentais, que privilegiam a análise crítica e o raciocínio lógico, os filósofos orientais tendem a encarar a meditação, a intuição e a experiência mística como formas válidas de adquirir conhecimento.
No mundo oriental, os partidários do “zen” – que significa “meditação” – as palavras e os conceitos atrapalham o caminho para o saber ou o para o conhecimento. A realidade só pode ser entendida a um nível intuitivo, não conceptual. De acordo com esta abordagem é importante não ficar demasiado dependente do pensamento. O pensamento e as palavras são, como que, “ruidosos” e a meditação requere silêncio. Também no mundo ocidental, o silêncio é valorizado por algumas ordens religiosas, que acreditam ver na meditação silenciosa uma abertura e uma via de acesso ao Absoluto, como manifestação principal do saber.
Mas, de que falamos quando falamos do “silêncio”? O que é o silêncio?
Em certo sentido, o silêncio é inefável e reveste-se de uma aura enigmática e paradoxal; é inefável e enigmático, porque se quebra no preciso momento em que se profere o seu nome; é paradoxal, porque, o silêncio também comunica e porque a sua natureza é portadora de diversos sentidos.
Num primeiro sentido, o silêncio não é a simples ausência de sons: um barulho pode ser silencioso, assim como um silêncio pode ser sonoro. Tal é o caso do vento ou do silêncio do mar. Por isso, mais do que ausência de sons, o silêncio é a ausência de sentido e constitui uma categoria ontológica essencial: diante das questões existenciais, o homem parece estar condenado ao silêncio e à surdez de um universo insensível, regido por leis mecânicas implacáveis.
Num segundo sentido, o silêncio apresenta-se como um elemento crucial, em particular no âmbito das relações humanas e dos atos de comunicação. Neste contexto, para escutar é necessário silêncio, e para se fazer ouvir também. Por isso, se o silêncio não é a simples ausência de sons, também não é a recusa em falar.
Aquele que recusa falar, fecha-se, mas aquele que faz silêncio abre-se. Neste sentido, o silêncio permite a abertura ao outro, estabelecendo com ele pontes de diálogo, de paz e de harmonia.
Tornada possível pelo silêncio, esta abertura ao outro não constitui – ou não deve constituir – uma abertura passiva e acrítica, de aceitação dogmática, mas uma construção conjunta do sentido e em espírito de respeito e de tolerância pela diversidade.