Actualmente, estão reunidas em Portugal, condições favoráveis para uma conjuntura conducente, à cessação tabágica. Com o aumento do preço dos produtos do tabaco, foi conseguida uma das medidas de prevenção e controlo deste problema de saúde pública capaz, por si só, de ajudar a conter, pelo menos o número de principiantes, economicamente desfavorecidos. E, associada a este facto, há uma segunda medida – a proibição de venda de tabaco a menores.
Considerando que uma grande parte dos fumadores, iniciou este hábito na adolescência, esta parece ser uma medida importante, pelo menos para tentar diminuir, o acesso dessa parcela da população, ao hábito de fumar. Se fosse possível, diminuir para metade, o número de jovens que anualmente começa a fumar, evitar-se-iam 20 milhões de mortes até 2050.
Nos tempos actuais, o hábito de fumar ganhou algum tom depreciativo, capaz
de prejudicar a imagem do indivíduo na sociedade, podendo essa pressão social ter o condão adequado de coagir à mudança.
A cessação tabágica acarreta, invariavelmente, uma melhoria do estado de saúde individual e os consequentes benefícios para a saúde iniciam-se quase de imediato, continuando a manifestar-se por toda a vida:
– O ritmo cardíaco baixa 20 minutos após a cessação;
– 12 horas depois, o nível de monóxido de carbono no sangue regressa aos valores normais;
– 2 semanas a 3 meses depois, existe uma diminuição do risco de enfarte do miocárdio e a função pulmonar aumenta;
– 1 a 9 meses depois, diminui a tosse e a dispneia;
– 5 anos depois, o risco de acidente vascular cerebral iguala a de um não-fumador;
– 10 anos depois, o risco de cancro do pulmão é cerca de metade do de um fumador, diminuindo também o risco de cancro da boca, faringe, esófago, bexiga, rim e pâncreas;
– 15 anos depois, o risco de doença coronária é igual ao de um não-fumador.
Parar de fumar antes, ou durante os primeiros meses de gravidez, reduz o
risco de ter um filho com baixo peso à nascença.
Os benefícios poderão também ser obtidos por outros – a família, a sociedade, o Estado – pois os custos inerentes ao tabaco tornam-se cada vez mais imensuráveis.
Sendo o tabagismo o grande flagelo para a saúde, não faz sentido referir prejuízos resultantes da cessação tabágica. Serão de considerar alguns riscos associados à cessação tabágica, no entanto, completamente suplantados pelos benefícios.
A síndrome de abstinência é a consequência fisiológica mais importante, associada à interrupção súbita do consumo. Os seus efeitos, desconfortáveis ao organismo, são algumas razões apontadas pelos fumadores para temerem a cessação tabágica: desejo intenso de fumar (craving), irritabilidade, hostilidade, ansiedade, dificuldade de concentração e insónia.
No entanto, é possível minorar este estado com o auxílio de terapêutica farmacológica.
As taxas de recaída dos fumadores são da ordem dos 70 a 80%, ocorrendo principalmente nos primeiros 6 a 12 meses após a cessação tabágica.
São muito comuns os sintomas depressivos e de ansiedade, associados ao tabagismo.
Foi também referida a obstipação como uma consequência da cessação tabágica, podendo, um em cada seis indivíduos, desenvolver obstipação e, destes, um em cada onze, ter contornos graves.
Uma das principais razões apontadas, principalmente pelas fumadoras, para justificar o receio em abandonar o hábito de fumar é, de facto, o aumento de peso.
A quantidade de peso aumentado também parece estar relacionada com o número de cigarros fumados por dia: o aumento ponderal será tanto maior, quanto maior for a dependência à nicotina e a explicação parece estar relacionada com a leptina.
A leptina é uma hormona que induz a saciedade, diminuindo a ingestão alimentar e parece, que o efeito do consumo de nicotina provoca elevação dos níveis de leptina no organismo. Quando subitamente é interrompido o fornecimento de nicotina, este efeito deixa de se fazer sentir, contribuindo desta forma para o aumento da ingestão, provocando um aumento de peso.
Este aumento foi relatado, por alguns autores, como sendo em média de 3 a 5 Kg embora, podendo em alguns casos, ultrapassar os 10 Kg.
A nicotina, existente no tabaco, está reconhecida como uma droga capaz de provocar dependência, com propriedades similares às anfetaminas e à cocaína, não sendo, no entanto, tratada como uma droga, pois a sua venda continua a ser permitida, a preços relativamente baixos.
Não faz muito sentido, que o tabagismo, sendo um mal que atenta contra a vida, não seja tratado como tal. Toda a legislação sobre o tabaco deveria ser revista, a começar pela presença pacífica de que goza o tabaco na nossa sociedade, junto de jornais e revistas, assim como a imoralidade que permite ao Estado, lucrar com algo que, está provado, causa doença e morte.
No sentido de ajudar o processo da Cessação Tabágica, deveriam os serviços de saúde criar uma equipa multidisciplinar que, para além de um médico de medicina interna, incluíssem um psicólogo, um nutricionista e um profissional de educação física.
Quanto à ingestão alimentar, deveria ser desenhado um plano alimentar personalizado, com apoio adequado, para permitir que o mesmo seja rigorosamente seguido, pelo menos durante os primeiros tempos após a cessação.
Por último, a fim de aumentar o compromisso dos pacientes, deveria-se
associar-se consultas e tratamento dentário e dermatológico, para estimular o
aumento da auto-estima da nova imagem, devolvendo o aspecto e saúde da
pele e dentes, que o fumo prejudicou durante anos.
Nutricionista