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Terça-feira, Outubro 15, 2024

Canalhices – Por António Duarte-Fonseca

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Rosine Stolz, grande meio soprano, excedia pela qualidade e potência vocal, mas excedia também pelo seu mau carácter, invejoso e caprichoso, não olhando manifestamente a meios para atingir fins.

O seu amante, Léon Pillet, director da Ópera de Paris, impô-la ao compositor Fromental Halévy como protagonista (Beppo) da nova ópera deste, Le Lazzarone (O Canalha).

Mas nesse papel Stolz tinha como partenaire a já então muito apreciada soprano Julie Dorus-Gras, que interpretava Baptista, a amada de Beppo.

Na noite da estreia, Stolz não esteve com meias medidas para arruinar a prestação e o previsível sucesso de Dorus-Gras. Enquanto esta cantava a sua ária principal, Stolz (Beppo) desatou a comer esparguete como um verdadeiro canalha, erguendo bem alto, sobre a boca, um garfo com uma grande meada de massa a escorrer.

Apanhado de surpresa, o público começou a rir em gargalhadas que alastraram pela sala toda, em vagas sucessivas e crescentes. Como é evidente, foi impossível que a infeliz Dorus-Gras pudesse brilhar naquelas circunstâncias.

Com ar de convicta resignação, Rosine Stolz comentaria mais tarde para quem a quis ouvir: “Neste mundo, cada um defende-se como pode”.

O episódio é verídico, mas serve de parábola. Infelizmente, é o que se tem visto – e anda a ver – na escola, na vida académica, no trabalho, nos negócios e também (como não?) na política.

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