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Domingo, Julho 13, 2025
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Foto de Maria José Pessoa

Onde estamos? Como identificar o centro de quem somos? O que somos?
Concentramos a nossa atenção em diferentes circunstâncias. As circunstâncias são os círculos em cujo interior vivemos. Projetamos olhar e mente para o que nos rodeia e sentimos. Pensamos. Absorvemos ou desprezamos, selecionando mais ou menos conscientemente pormenores da paisagem. O que nos toca? O que nos puxa? O que nos é indiferente ou repugna?

A senciência é definida pela dor. Esta é a prova, diz-se, de sermos dignos de respeito. Ser que sente, sente dor. E é essa que queremos evitar. Cultivando o prazer.

Eis as circunstâncias:

Dores do Mundo
Sabemos que o mal nasce e cresce abundantemente pela Terra fora. Semeado por nós ou como resultado de catástrofes mais ou menos naturais. A perspetiva otimista acerca desta questão é a que mostra que, olhando para a história da humanidade, apesar de tudo não estamos tão mal, não fazemos tanto mal como já fizemos. Não tenho a felicidade de ser otimista.

E, contudo, ela move-se. Certo, Galileu? Ela, a Terra. Ela, a felicidade. E nós na Terra, em busca da felicidade. Gesto a gesto. A cada escolha muda agora tudo. A dor do outro é também a minha. Duras dores para quem não se limita às suas. Por isso é preciso reduzir, a espaços, o círculo, e dar conta de nós. Também.


Dores do Corpo
Sem ele nada saberíamos de nós nem do mundo. O que mais vemos do nosso corpo está no final desses prolongamentos, filamentos, que são os braços: as mãos. “Conheço-te como às minhas mãos.” Quer dizer: não te confundiria com nada nem ninguém que pudesse, que possa ser parecido contigo: sei-te tão bem como à história da minha relação com as minhas mãos. Essas que agitei quando nasci, que demorei a perceber que eram parte do meu corpo, que usei para tocar matéria mineral, vegetal, animal, a pele dos outros, as mãos dos outros, a temperatura de cada coisa, o vibrar do ar, a dança do mar e a areia que escorreu por entre os meus dedos, como o tempo. Assim te sei. Conheço a dor das minhas mãos e rezo para que nunca deixem de ser as minhas mãos com a sua dor dentro. Por dentro da sua dor. Envelhecer continua a ser crescer.


Dores da Alma
Há um centro algures que escapa ao nosso entendimento. Ao entendimento do que somos, de quem somos. Um nó, um coração imaterial, porventura, um pulso transparente – ou, quando muito, a fonte de uma incorpórea espécie de água pura que alimenta subterraneamente, subliminarmente, a nossa alma.
É essa chama que transporta o mesmo de nós que muda através dos tempos. Uma qualquer coisa que confere a identidade por debaixo das pregas da nossa história. Uma forma de alegria que sobrevive às investidas da dor. Um cristal sem peso.

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