O grupo, atualmente uma cooperativa cultural com sede em Coimbra, teve a sua génese ligada ao Processo Revolucionário em Curso (PREC), quando estudantes participavam na abertura de uma estrada, no âmbito das campanhas de dinamização cultural e acção cívica do Movimento das Forças Armadas (MFA).
Começou por ser um grupo informal, constituído maioritariamente por jovens ligados à União dos Estudantes Comunistas (UEC).
“Temos uma posição obviamente política no campo cultural. Não podemos pensar a música desligada daquilo que é o mundo”, afirmou à agência Lusa Manuel Rocha, um dos mais antigos membros da Brigada.
Orgulhoso por mergulhar as “raízes no espírito da liberdade”, o agrupamento tem os ideais de Abril “em cada uma das suas palavras”, enfatizou o violinista, que na década de 1980 estudou música na antiga União Soviética.
A Brigada Victor Jara começou a percorrer Portugal, em 1975, levando às pessoas canções revolucionárias em voga, nacionais e de outros países, para depois concentrar o seu trabalho na pesquisa e divulgação da música tradicional portuguesa, a partir da edição do primeiro LP, “Eito Fora”, em 1977.
“Consideramos que vale a pena não entregar todas as armas àquilo que é o ruído anglo-saxónico predominante do nosso tempo”, justificou.
O músico realçou a importância de manter esse rumo 50 anos depois da Revolução dos Cravos, “tempo das brigadas de alfabetização e de educação sanitária, em que as brigadas de estudantes da Universidade de Coimbra iam para o campo fazer teatro” e confraternizar com as populações.
“A música de raiz popular estava escondida nas recolhas de poucos etnomusicólogos, cuja nossa principal referência foi sempre Michel Giacometti”, recordou, destacando também o apoio de Louzã Henriques e do Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC), “quando se abriam estradas reais e metafóricas”.
Psiquiatra de profissão, etnólogo por devoção, Manuel Louzã Henriques “era um homem muito próximo de todas as coisas que aconteciam na nossa terra”, sublinhou o professor de música.
“E até nos mostrou o ‘fado corrido’ que nós gravámos mais tarde [LP “Quem Sai Aos Seus”, 1981], de alguma forma em homenagem a ele e ao seu povo da Serra da Lousã”, explicou.
Para Manuel Rocha, no essencial, em perto de meio século de atividade, a Brigada adotou “um reportório tradicional, a partir do qual construiu um objeto sonoro diferenciado” que tem “uma intenção e um compromisso” com a democracia.
Catarina Moura integra o projeto desde 2000. “Tenho-me aguentado e é bom sinal”, regozijou-se a única mulher do coletivo, que nasceu em 1975, tal como a Brigada.
“Tenho um carinho muito grande pelos meus camaradas de estrada”, referiu a vocalista, que está envolvida localmente noutras iniciativas culturais.
O multi-instrumentista Ricardo Grácio, de 38 anos, é o mais jovem membro do grupo. Realizou um sonho ao ingressar na sua “banda favorita” de sempre.
“Faço parte da última ‘brigada revolucionária’ ainda no ativo”, gracejou, ele que em menino foi aluno de Manuel Rocha no Conservatório de Música de Coimbra.
Já Arnaldo Carvalho tem “uma memória muito comprida deste caminho”, desde 1978. “Funcionamos como um verdadeiro coletivo e este é um dos segredos da nossa longevidade”, assegurou o percussionista.
Ao longo de 49 anos, com diferentes formações, a Brigada Victor Jara gravou 10 discos: “Eito Fora” (1977), “Tamborileiro” (1979), “Quem Sai aos Seus” (1981), “Marcha dos Foliões” (1982), “Contraluz” (1984), “Monte Formoso” (1979), “Danças e Folias” (1995), “Por Sendas Montes e Vales” (2000), “Ceia Louca” (single, 2003) e “Ceia Louca” (CD, 2006), reunidos na coletânea “Ó Brigada” (2015).
OC/Lusa