A discussão em relação a como chegar a um critério que permite marcar a ciência da não-ciência e a boa-ciência da má-ciência, é crucial para determinar em que métodos devemos confiar. Por esses motivos, o problema da demarcação é um debate filosófico fundamental, pelo que existem duas teorias filosóficas que visam dar-nos a solução definitiva para esse problema; o verificacionismo dos neopositivistas e o falsificacionismo de Karl Popper.
Neste ensaio irei explicitar cada uma destas teorias e colocá-las sobre teste, em relação a como definiriam as teorias do criacionismo e do evolucionismo.
Para os neopositivistas, o problema da demarcação deve ser abordado numa perspetiva cautelosa, tendo como objetivo expor a «nebulosidade» no meio científico, evidenciando as fraudes científicas e as teorias que se querem passar por científicas. Para tal criaram o chamado critério da verificação que rapidamente teve de ser substituído, pois obrigava à observação e experimentação, para afirmar algo com exatidão, o que colocava em causa as leis universais, pois seria impossível compararmos que, por exemplo, «todas as esmeraldas são verdes», uma vez que precisaríamos de analisar todas as esmeraldas do mundo. Assim, os neopositivistas criaram um critério baseado na confirmação que mantinha o princípio de observação de casos científicos positivos de forma repetida, mas adaptáveis para uma nova conclusão: se observarmos repetidos casos positivos para uma determinada hipótese, é possível concluirmos que a mesma é provavelmente verdadeira, permitindo, deste modo, a existência de leis universais.
Vou dar dois exemplos de como os neopositivistas, em relação ao problema da demarcação, responderiam às duas teorias. Primeiramente em relação à teoria do criacionismo, os neopositivistas verificacionistas apontariam a falta de provas empíricas e a atitude dogmática dos seus defensores se basearem em interpretações literais de textos religiosos, para afirmar que a teoria não pode ser científica. No entanto em relação à teoria do evolucionismo os verificacionistas apontariam as provas a favor da teoria para a justificar como provavelmente verdadeira.
De realçar que os verificacionistas receberam críticas em relação ao seu método, por não permitirem afirmação de proposições negativas como «nenhum objeto se desloca a uma velocidade superior à da luz» pois é impossível segundo o modelo verificacionista provar aquilo que não acontece.
Existe uma outra posição filosófica desenvolvida por Popper que pretende fornecer uma alternativa para o problema da demarcação, o falsificacionismo.
O falsificacionismo baseia-se na procura de casos que falsificariam uma dada teoria. Assim Popper afirma que uma teoria deve procurar determinar os casos que a provariam como errada, para em seguida os cientistas colocarem a teoria sob teste e determinarem se a teoria é falsificada (provada como falsa) ou falsificável (ou seja, ainda não foram descobertos casos que a ponham em causa). Assim Popper afirma que a teoria, apesar de não ter sido falsificada pelos testes, ainda não é possível ser considerada como verdade absoluta, sendo apenas uma visão, atualmente, de um determinado problema, podendo ser falsificada no futuro.
Popper ainda afirma que quanto maior o conteúdo empírico e os casos que a teoria proíbe, maior é o seu grau de falsificabilidade e mais forte é a teoria.
Assim, portanto, iremos colocar a teoria de Popper sob teste em relação às mesmas teorias de anteriormente, o criacionismo e o evolucionismo. Para Popper o criacionismo seria uma teoria fraca, uma vez que não apresentava, nem conteúdo empírico, nem casos que a teoria proíbe, sendo uma teoria dogmática, que rejeita as provas contra a mesma, baseando-se em interpretações literais de conteúdos não empíricos não se tratando desse modo de uma ciência, mas sim de uma pseudociência.
Já o evolucionismo apresenta bastante conteúdo empírico e bastantes casos proibidos de acordo com a teoria, pelo que é uma teoria com um elevado grau de falsificabilidade. Mesmo assim, para Popper, a teoria é apenas uma visão atual para um determinado problema científico, pelo que não se pode considerar como uma verdade absoluta.
Para concluir o problema da demarcação é um debate filosófico importantíssimo para a sociedade definir no que deve acreditar e no que não deve confiar. Assim é crucial definir um critério definitivo para separar a ciência da não-ciência, e a boa-ciência da má-ciência, tendo consciência de que nem tudo que é não-ciência é pseudociência pelo que se incluem nesta definição outro tipo de matérias que não se querem passar por ciências.
NR: Ricardo Costa é o nosso colaborador mais jovem. À data deste texto tinha apenas 16 anos. Convidamos todos os jovens que sintam vontade para escrever que o façam connosco, como o Ricardo.
Estudante, 17 anos, Escola Secundária Dr. Joaquim Ferreira Alves – Valadares