Bebemos um café hoje?
Sim, dois talvez.
Um curto e rápido, sem açúcar, apenas para sentir o sabor da cafeína e sem me importar que a língua ou os lábios se queimem. Pode ser em pé, mesmo ao balcão. Aquele que tantas vezes me vê chegar à pressa para o beber sem me atrasar e onde as palavras são apenas feitas de silêncios.
O outro, quero-o longo, cheio, quente e forte. Como o que nos une, mas que fomos deixando viver mais ou menos à pressa. Quero bebê-lo com cuidado, devagar, com todas as palavras que precisamos de dizer, ainda que repetidas vezes sem conta. As palavras feias, as bonitas, as tuas e as minhas palavras, as que nos uniram, as que nos levaram longe, as que sonhámos, as que o nosso coração guarda e que nunca foram ditas. Sim, as que escrevemos também, as velhas, as novas, as que foram esquecidas e as que estão fora de moda. Todas, sem deixar nenhuma!
Anda comigo, vamos sentar-nos. Perto um do outro, como as nossas memórias e o nosso afeto. Vamos lá para fora, para a mesa mais virada ao Sol que houver. Com a última gota do segundo café chega sempre uma brisa suave que, enquanto prolonga o seu sabor, rouba também os ponteiros do relógio. As palavras vão juntar-se e repetir-se, mas nunca se vão cansar.
Por isso, quero ver-te outra vez amanhã.
Talvez noutra esplanada, talvez noutro café. Mas se, por acaso, não estiver Sol ou se a brisa se transformar em vento forte, vem ter comigo na mesma. Porque o nosso olhar vai repetir-se e as palavras também. E eu vou sentir que o sabor do café será ainda melhor.
Talvez pela felicidade de te ter junto a mim.
Escritor e Gestor de Empresas