“Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante!” Paulo Freire
Não poderia estar mais de acordo com as sábias palavras de Paulo Freire, seja como mãe, seja como professora que, quotidianamente, luta por fazer da escola um local de sã aprendizagem. É fundamental o papel que os pais e encarregados de educação têm em todo este processo educativo.
Muitas vezes escutamos relatos em que pais e professores parecem fazer parte de “barricadas” diferentes e se debatem como se de rivais se tratasse. Mas afinal não trabalham ambos para um bem comum? Na escola, como em casa os pais têm um lugar. No entanto, têm também um papel fundamental no âmbito das responsabilidades: criar, sociabilizar, estimular, apoiar, participar.
A escola para todos é escola de todos, inclusiva, participativa, partilhada. Esta escola, que queremos democrática, faz-se com todos os participantes no processo educativo.
Está consagrada na Constituição da República Portuguesa a responsabilidade dos pais na educação dos filhos. E o regime jurídico de gestão e autonomia das escolas reconhece aos pais o direito de participar na vida escolar dos filhos e consequentemente na vida das escolas.
Está também na legislação o direito dos pais se associarem para objetivos comuns em tudo o que concerne à educação dos seus filhos.
No entanto, a maioria dos pais apenas vai à escola para saber dos seus próprios filhos, sendo que um grande número se limita a escutar e outros (normalmente os que mais necessitariam de estar presentes) são continuamente convocados e nem sequer se fazem presentes.
O que motiva então aqueles que, prejudicando muitas vezes a sua vida familiar, fazem diferente? Não é um emprego ou part-time remunerado… não é sinónimo de “jobs” ou carreira politica… então o que motiva estes pais a “perderem” fins-de-semana inteiros a pintar muros, consertar janelas na escola, ou participar em reuniões, por vezes até noite dentro, com os órgãos de gestão das escolas? Serão membros de alguma espécie humana estranha? Como já ouvi questionar… Não são “egos” ou vontade de se destacarem no ambiente escolar… Esta forma de agir diferente é cidadania ativa, voluntariado parental.
Numa sociedade cada vez mais egoísta e centrada no próprio umbigo, onde o individualismo, a competitividade e o efémero são os mestres, estes pais, exemplo de altruísmo, que assumem um dever de consciência cívica são um farol no processo educativo. Sendo que muitas vezes nem nos damos conta que com a nossa postura e o nosso exemplo estamos a educar. Já Esopo dizia: “Não se podem censurar os jovens preguiçosos, quando a responsável por eles serem assim é a educação dos seus pais”.
Serão as pessoas diferentes, possuindo umas o dom para a generosidade, enquanto outras se fecham em si próprias, acomodando-se, egoístas?
Como dizia António Amaral, dirigente da Fersap: “Os valores da cidadania, da solidariedade, da partilha e da responsabilidade aprendem-se na família, como cultura geracional. Mas ninguém nasce educado e esta responsabilidade é de todos. A escola também tem o papel de incentivar estes valores, incluindo estas matérias nos currículos e nos projetos, promovendo iniciativas e atividades de modo a que as crianças aprendam a viver em sociedade”.
É importante educar para os valores humanos, para a compreensão que dependemos todos uns dos outros, que, infelizmente, não nascemos todos iguais.
Como docente é comum identificar, com relativa facilidade, os alunos cujos pais estão mais envolvidos no quotidiano escolar, apenas pela sua postura e atitude na sala de aula. E faz toda a diferença e nem nos damos conta que estamos a educar com isso para a cidadania.
A escola pode e deve ser um espaço de exercício da cidadania, de promover a democracia participativa, construindo relações de interdependência geradoras de emancipação. É necessário: organização, descobrindo formas criativas e diversificadas de funcionamento que lhe confiram autonomia e identidade própria; metodologias, potenciando a diversidade; intenção estratégica.
Assim sendo, qual é hoje o papel das Associações de Pais na escola?
Falar do papel das associações de pais hoje é falar de um elemento indispensável no processo educativo. Curiosamente, ainda escutamos muitas vezes comentários de crítica ao papel interventivo dos pais na educação. Como mãe, considero fundamental que os pais e encarregados de educação sejam ouvidos no processo ensino-aprendizagem. Quem melhor que nós deve saber o que quer para o futuro dos nossos filhos? Como educadora recordo que já Pitágoras dizia “Educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos”. É que transmitir um conjunto de conhecimentos não é o mesmo que educar para criar cidadãos interventivos na vida e na sociedade.
O nível socioeconómico tem sido apontado na literatura em geral como um dos indicadores do envolvimento parental nas escolas. Na medida em que os alunos provenientes de famílias desfavorecidas têm mais risco de insucesso académico, o maior afastamento das famílias em relação à escola torna-se um fator perpetuador de desigualdades sociais.
É pois necessário envolver as famílias no processo educativo e na relação destas com a escola. Envolvê-las significa ajudar a ultrapassar dificuldades e melhorar o sucesso educativo e escolar dos seus educandos. É com a escola e a família que a criança desperta a sua curiosidade e desejo de aprender, logo é impensável que ambas andem de costas voltadas.
Muitos têm sido os exemplos de sucesso deste envolvimento. Desde pais que doam o seu tempo de lazer e o ocupam em reparações na escola, com vista a melhorar as condições e obter um maior conforto para os seus educandos, a pais que participam ativamente nas políticas educativas locais e nacionais alertando, muitas vezes, quando ninguém o faz, para as dificuldades e problemas com que quotidianamente nos confrontamos.
Se é sucesso escolar e educativo que pretendemos não podemos descurar esta relação fundamental. As Associações de Pais são muitas vezes o elemento unificador e mediador desta relação, na medida em que são elo de ligação entre a escola e os encarregados de educação.
Por isso, ao longo dos anos (como docente e como mãe) venho defendendo iniciativas como Escolas de Pais, voluntariado parental na escola, formação de pais, mas também uma responsabilização dos pais pelo não cumprimento da escolaridade dos filhos. Este deve ser um dos vetores de intervenção na prevenção do abandono escolar.
Já Ramalho Ortigão dizia que “O modo mais eficaz de seres útil à tua pátria é educares o teu filho”.
As condições de vida atuais, com situações de pobreza crónicas, os exemplos familiares de subsidio-dependência, o stress que está associado ao quotidiano citadino, os duros horários de trabalho, a ausência de rede de apoio na comunidade ou as ruturas familiares deixam claras consequências a longo prazo, não só para as crianças ou jovens e suas famílias mas na sociedade em geral.
E se a família é o pilar fundamental para a educação duma criança, a escola é o seu “tubo de ensaio” das primeiras experiências. Se por um lado, os professores se veem diariamente confrontados com o nulo reconhecimento do seu direito de exercer a sua profissão em condições de dignidade, se confrontam com salas de aula repletas, problemas graves de indisciplina e agressões; por outro lado, os pais também se confrontam, cada vez mais, com problemas de divórcio, desemprego ou problemas de origens diversas com os filhos.
Urge pois que se ajudem mutuamente e reforcem parcerias no sentido de criar indivíduos com valores, conscientes das realidades e capazes de pôr mãos á obra por um amanhã diferente. Porque, como dizia Nelson Mandela, recentemente parafraseado pela Nobel da Paz Malala “a educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo”.
Professora