Vivemos tempos perturbantes que são o catálogo perfeito daqueles que nos impingem de todas as formas, as suas ideias, como sendo verdades únicas, incontestáveis. E de peito enfunado vão por aí entupindo todos os meios de comunicação com o seu ruído ensurdecedor. São eles, eternos namorados da presunção e da sua pseudointelectualidade. Tanto, que o pior de tudo é enamorarem-se da própria soberba e chegar a um casamento unilateral.
O EU avança sem barreiras.
Acreditam cegamente no seu próprio catálogo e não se distanciam dele, um milímetro, para encarar, afinal, outras realidades, outras opiniões. Comentam e opinam com a vaidade e a arrogância de quem tudo sabe. Sobre tudo e todos. Abarcam as várias áreas do conhecimento enfatizando-as sem fio condutor, nem a ciência exata lhes escapa. Lançam-se a todos os assuntos para se ouvirem ou pior ainda, para se sentirem poderosos. Oh, triste poder este! Vivem e alimentam-se de um ostentoso EU. Afinal onde fica a consciência?
É desta atitude delirante que resultam a cegueira pelo poder. O que mais os fascina é verem refletido no espelho uma estatura maior do que a que têm no seu documento de identificação, uma (in)realidade que lhes tapa o sol com a peneira e lhes tolda o discernimento. São entendidos em Arte, mesmo quando não distinguem um Claude Monet de um Édouard Manet. Talvez os atraiçoe a fonética!
E como quem não quer a coisa, até confundem a linguagem da arte moderna da arte contemporânea. Depois, não sabem onde meter a Joana Vasconcelos, mas falam dela e da excentricidade das suas obras. E metendo as mãos no barro, misturam os “Bonecos de Estremoz”, com as peças figurativas de Rosa Ramalho. É apenas uma questão de localização.
Esta pseudointelectualidade tem fases: ora se esconde na ansiedade e alheação de Kafka, ora em “Por Quem os Sinos Dobram” de Hemingway; talvez a decidirem-se entre Dostoïevski e Auster.
Então na política, o discurso torna-se mais eloquente, aqui todos sabem exatamente de fio a pavio os ideais democráticos, defraudando-os constantemente. Falam, falam e não dizem nada. Às vezes, são laranja, outras rosa e raramente coerentes. Vagueiam entre a paleta de cores. Ora viram à esquerda, ora viram à direita e se der jeito aguentam-se entre estes e dançam uma chula ou um fandango. Siga a Banda! E de cara à banda ficam aqueles, que à espera de um poleiro escorregam logo à porta do galinheiro.
Nem o desporto escapa a tantos sabedores e, tantas vezes, o seu entendimento não vai além de um «derby» entre os maiores do futebol, para alinhar as suas frustrações diárias. Corre-se o risco de um dia destes termos mais comentadores que atletas.
Todos sabem de tudo, tudo, mesmo! Sofrem deste mal terrível de não se remeterem ao bom senso e à seriedade. Proliferam os pareceres, opiniões e planos, dão-se ao desfrute de meter a foice em seara alheia. Tudo serve para enaltecer e sustentar o Ego desmedido. Está-se na era da pseudointelectualidade. Ostentando uma grande atividade intelectual e falsos interesses ou conhecimentos.
Valem-nos aqueles que leem o mundo sem jactância e o EU não tem grades. São os portentos da verdadeira intelectualidade. E eles existem para otimização do mundo!
Professora e Escritora