No coração da Europa, sob as fachadas brilhantes da prosperidade, reside uma sombra que todos nós sentimos uns mais que outros, mas ninguém escapa à pobreza e às consequências socioeconómicas desta.
Como o filósofo Jean-Jacques Rousseau uma vez citou: “O homem nasce livre, e por toda a parte ele está acorrentado”. A pobreza é a corrente que é passada de mão em mão, seja esta pobreza monetária/financeira ou pobreza cultural, e ao longo do tempo dá novas formas e novas dinâmicas à própria sociedade.
Europa esta em constante mudança que presenciamos como uma etapa nébula de inclusão que veio das consequências significativas também da pobreza. Conseguimos observar pelos atuais conflitos sociais que são gerados, pela falha na educação/saúde e a dificuldade latente de manter níveis de cultura geral.
Albert Einstein disse uma vez: “A educação é o que resta depois de termos esquecido tudo o que aprendemos na escola”.
No entanto, para aqueles aprisionados no ciclo da pobreza, até mesmo as portas da escola parecem estar trancadas. E agora olhamos para a realidade portuguesa que segundo o relatório de pobreza e exclusão social de 2022 viu o risco de pobreza ou exclusão social aumentar 12% face ao ano último inquérito no ano anterior correspondendo a 256 mil pessoas!
Portugal que sempre quis fazer-se ver como um país desenvolvido, apesar do seu tamanho, mesmo demonstrando por vezes potencial além-fronteiras, não deixa de ser o 8º país da União Europeia com maior proporção da população a viver em risco de cair na pobreza!
E claro está, consequentemente veio a observar-se um aumento relevante na desigualdade social da nossa população.
De acordo com a própria literatura, já a mesma descrevia que tal fenómeno gera e proporciona níveis mais baixos de escolaridade e a falta de acesso a uma educação de qualidade, criando um abismo entre os que têm e os que não têm, garantindo que as oportunidades permaneçam ilusórias para aqueles que mais precisam.
O que vai também de acordo com os dados estatísticos nacionais. Porém, este retrata outras preocupações, a população sénior, a população estrangeira e a população com menos condições de trabalho a destacaram-se por estarem em maior risco de pobreza e exclusão social.
Os efeitos deste acrescido risco, sem que sejam tomadas as devidas medidas de inclusão e estabilidade, propagam-se por gerações, como observou o notável Franklin Roosevelt: “O teste do nosso progresso não é se acrescentamos mais à abundância daqueles que têm muito; é se fornecemos o suficiente para aqueles que têm muito pouco”.
A predominância da sombra da pobreza garante que mutos jovens, séniores, imigrantes em meios desfavorecidos e desigualitários enfrentem perspetivas futuras limitadas, reduzindo sua capacidade de escapar ao ciclo da pobreza. Pobreza gera pobreza seja esta em qualquer contexto!
À medida que o ciclo continua, ele se auto alimenta e reforça-se em conflitos, fome, isolamento, maus-tratos, criminalidade, falha nos direitos humanos, falta de educação entre muitos outros. Assemelhando-se às palavras de Nelson Mandela: “Democracia com fome, sem educação e saúde para a maioria é uma concha vazia”.
E neste caso, o que a sociedade perde é a democracia no oceano da pobreza, ancorando os indivíduos nesta luta interminável que só poderá parar ou estancar com esforços da população e dos que tem maior poder, esforços políticos e de natureza pública dentro do pais e do continente europeu.
Para quebrar este ciclo, e combater a pobreza de forma eficaz é necessária uma abordagem multidisciplinar. A Europa, a União Europeia e as Nações Unidas devem priorizar a segurança e a paz, os cuidados de saúde, acesso a educação de qualidade, formação profissional especializada para qualquer idade e criar mais oportunidades que promovam a proatividade da população.
Assim como, não olvidando que tanto o setor privado como público cooperem para o mesmo objetivo e que resulte em salários mais justos, independentemente as diferenças de género, planos de reforma dignos, mentalidade aberta em novos empregos e incorporação da inovação tecnológica.
Em conclusão, o ciclo da pobreza e suas consequências estão presentes e são uma longa sombra sobre a Europa. É imperativo que as sociedades em todo o continente reconheçam a urgência de abordar essa questão.
Como refere John Dewey: “A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida” e o que queremos é incrementar qualidade de vida! Da mesma forma, no âmago da pobreza sabemos que reside um potencial inexplorado e uma resiliência que foi gerada na espera…
Advogado, Psicólogo e Investigador Universitário