10.8 C
Porto
14.4 C
Lisboa
15.9 C
Faro
Quinta-feira, Janeiro 23, 2025

Ama et fac quod vis – Por José Paulo Santos

As mais lidas

José Paulo Santos
José Paulo Santos
Professor, Poeta e Formador

Há uma simplicidade desarmante na velha máxima em latim de Santo Agostinho: Ama e faz o que quiseres. Uma frase tão curta, mas que ribomba com a intensidade de um trovão num coração atento. Porque nela se encerra o verdadeiro sentido da vida: VIVER. Não sobreviver, não passar os dias em cinzentas rotinas, mas viver. Viver mais por e para dentro e deixar o “lá fora” seguir as suas cruzadas.

Amar é a base. Não o amor idealizado, preso nas teias do efémero, banal, mas o amor profundo, visceral, aquele que nasce no encontro de dois olhares ou no toque subtil de uma mão. Amar é abrir o peito à vulnerabilidade, é entregar-se por inteiro, sabendo que se corre o risco de se partir. Mas só quem se parte sabe o que é renascer.

Na vida, há momentos em que o essencial parece fugir-nos por entre os dedos. O sentido da existência torna-se nebuloso e o ruído do mundo ameaça engolir-nos. É nesses instantes que nos revoltamos, não por capricho, mas por necessidade de reaver o que verdadeiramente importa: a arte de escutar, o silêncio compartilhado, as conversas profundas sobre tudo e nada. O toque de mãos dadas que diz: “Estou aqui, contigo.”

O sentido da vida não é um destino. É um movimento constante, uma metamorfose incessante. Somos crisálidas que jamais cessam de transformar-se, renascendo a cada dia para abrir novas asas coloridas. O amor – por alguém, pela música, pela arte, pela própria vida – é o catalisador dessa transformação. Quem ama, vive no presente, com o coração pulsante, disposto a aprender, a partilhar, a admirar: “Estou aqui, sempre, incondicionalmente!”

Dizer “amo-te” não é repetição, mas renovação. Cada vez que o dizemos, criamos um lar na essência de quem somos. Não um lar de paredes, mas um espaço onde o Ser e o Estar encontram abrigo, onde o tempo não tem pressa e o diálogo profundo é a linguagem das almas. “Escuta-me, escuta-me!”

Viver é entrega. É sentir os sentidos em festa: o aroma do pão acabado de sair do forno, os aromas do café que inebriam os sentidos, o som de uma melodia que nos leva para longe, o calor de um abraço que diz mais do que mil palavras. É admirar o mundo como uma criança, com olhos grandes e coração aberto. “Eu sou teu!”

Na metamorfose que cada um de nós atravessa, o amor é a bússola. Ama e faz o que quiseres – porque, ao amar, jamais farás mal. E assim, na entrega total aos sentidos, às aprendizagens e ao diálogo, o sentido da vida revela-se: estar plenamente vivo.

Que possamos, então, caminhar pela vida de mãos dadas com o amor, dizendo “amo-te” milhões de vezes, não apenas a quem nos é caro, mas ao mundo inteiro. Porque só quem ama se transforma. E só quem se transforma vive. E a vida existe na simplicidade de sermos.

- Publicidade -spot_img

Mais artigos

- Publicidade -spot_img

Artigos mais recentes

- Publicidade -spot_img