Em nome do rigor e da verdade, não há regra sem exceção. Por isso, todas as generalizações – enquanto regras do pensamento – tendem a ser generalizações precipitadas, arriscadas e falaciosas. Ainda assim, incorrendo no risco de redundar numa generalização precipitada, atrever-nos-íamos a sentenciar que a nossa era é a era da uniformização e da massificação. Partindo deste pressuposto – arriscado, mas com elevado grau de probabilidade – somos constrangidos a concluir que escasseiam hodiernamente os heróis.
Esta aridez de heroísmo a que a nossa era está votada será, pois, o reflexo e a consequência lógica da uniformização e da massificação a que os indivíduos estão votados na atual sociedade, onde todos se confundem e se imitam, como num vulgar rebanho.
Mas, o que é, afinal, um herói? De que falamos quando falamos em heroísmo?
Na visão clássica greco-romana um herói é alguém que se destaca do vulgo pela sua excecionalidade, pelo seu caráter de formação superior e pela sua capacidade de superação de adversidades e de trabalhar em prol do bem comum. Na época clássica, os heróis eram glorificados, recebendo uma coroa de louros como prémio de reconhecimento pelos seus atos heroicos.
Por que razão os heróis usavam na antiguidade uma coroa de louro?
A hermenêutica do símbolo – a coroa de louros – remonta à mitologia greco-romana. De acordo com essa mitologia, o deus Apolo (deus do sol) ter-se-ia apaixonado por Dafne (filha de Peneu). Porém, Dafne não nutria o mesmo sentimento por Apolo. Por isso, fugiu para as montanhas, tentando escapar da perseguição de Apolo. Dafne acabou por pedir proteção do progenitor, o deus Peneu (deus-rio). Este transformou-a num loureiro. E foi assim que Dafne venceu Apolo. Por isso, na Grécia e na Roma antigas, o loureiro passou a representar a vitória e os vencedores de qualquer tipo de competição passaram, doravante, a ser coroados e glorificados como heróis com folhas dessa planta.
Se numa primeira análise a planta representa a vitória, por outro lado simboliza a imortalidade. Este simbolismo da imortalidade advém-lhe do facto de o loureiro ser uma planta de folha persistente, permanecendo verde durante todo o ano, mesmo nos meses frios de inverno. Tal como a planta, em certo sentido os vencedores são heróis que, por intermédio da sua vitória, adquirem a imortalidade, persistindo na memória dos homens para todo o sempre.
Apesar da escassez de heróis no sentido clássico do conceito, pululam hoje outros heróis. São todos aqueles que vão, quotidianamente, pagando as suas contas e assim sobrevivendo e superando as adversidades de um mundo agreste e cada vez mais competitivo. A todos eles, uma coroa de louros!
