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Quarta-feira, Janeiro 15, 2025

Ai, Catilina!

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No seu interessante livro Uncommon Wrath – How Caesar and Catho´s Deadly Rivalry Destroid the Roman Republic, aparecido em 2022, Josiah Osgood mostrou com eficácia como acesas rivalidades pessoais, entre dois chefes militares respeitados e líderes políticos influentes, César e Catão, desencadearam o desmoronamento irreversível da antiga República Romana.

Personalidades díspares, ambos, à sua maneira e no uso das suas competências pessoais e políticas, galvanizaram várias vezes o Senado Romano e as elites a que pertenciam e os suportavam. Para Catão de Útica, Júlio César era um hábil manipulador da opinião pública para benefício próprio. Para Júlio César, Catão era um empedernido defensor dos valores mais tradicionais, insensível às condições de vulnerabilidade social dos mais desfavorecidos.

Essa rivalidade terá nascido a propósito da concepção da pena a aplicar aos implicados na conspiração instigada por Catilina, na tentativa de se fazer eleger como cônsul. Perante a crise económica em que a República estava mergulhada, o populismo de Catilina levou-o, de início, a propugnar a eliminação das dívidas dos economicamente carenciados, mas depois a ir mais longe, planeando criar o caos para garantir a sua eleição, sem olhar a meios, através do assassínio de altos responsáveis pelo funcionamento do governo de Roma e mesmo do incêndio da cidade. Descoberta a conjura, Catão defendeu a eliminação pura e simples dos conspiradores. Júlio César defendia o seu encarceramento perpétuo, por entender que a pena de morte não estava comportada nas competências do Senado, sendo contrária à lei. Venceu a proposta de Catão e César nunca mais lho perdoaria.

Ontem como hoje, independentemente do tempo e do lugar, não faltam outros exemplos de outras rivalidades pessoais, emergentes de egos inflamados, que, sobrepondo-se mesmo a rivalidades políticas, tiveram consequências desastrosas para o destino das nações.

Até em Portugal e em tempos recentes a muitos ocorre a possibilidade de rivalidades pessoais, disfarçadas, mas mal encobertas, e de contrariedades e desfeitas não digeridas, a aguardar o momento da retaliação, terem conduzido a decisões e à tomada de medidas mais justificáveis por vaidades pessoais e desígnios partidários do que por salvaguarda do interesse nacional, especialmente se dado crédito à valorização da estabilidade política e governativa.

É talvez por isso que, periodicamente, tantos receiam ver-se arrastados pelas vagas da ambição desenfreada de outros para um atoleiro de indefinição de valores e objectivos, de instabilidade a todos os níveis, mesmo na Justiça e no Direito, contra os primordiais fins deste: a segurança e a certeza.
E, no entanto, todos sabem quão fácil é cair no atoleiro e quão difícil é sair dele.

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