1. Deslumbrei-me com a própria luz.
2. Deslumbrei-me com a pressa infantil que me fez correr para uma ilusória alegria.
3. Deslumbrei-me com o excesso de cuidado com os outros e caí em mim.
Caí, eu.
Caí sobre mim mesma, de todas as vezes falhando-me o mesmo pé, o mesmo tornozelo, móvel ângulo reto que não resiste aos atrevimentos do espírito sobre a matéria.
O corpo diz-nos quando abusamos dele. Dele – de nós. “Quando a cabeça não tem juízo” -como se a cabeça não fizesse parte do corpo e este não vibrasse, a bem ou a mal, com o que fazemos da vida e esta connosco.
Não sabemos. Não sabemos o que pode o corpo, o que pode a vida, o que exige de nós a ambição, o desejo, o sonho, uma vontade não só alicerçada na razão, que voa alto demais e queima as asas que não tem.
Tens razão. Tens bons argumentos. Respeitas os princípios lógicos, aqueles que regem a união entre pensamento e linguagem, e esquecem o corpo. Esquecem o poder do corpo, o ruído do corpo, a invasão do corpo que sabe que não haveria linguagem, não haveria pensamento sem ele. O intrometido que afinal é o fundamento. Suporte, raiz, substância material onde nascem e crescem os sonhos de chegar à luz.
Aquele ângulo pode não me suportar. Posso cair. Desrespeitar princípios da natureza e do raciocínio. Posso cair e magoar-me. Mas não vou desistir.
Professora de Filosofia