Poucas são as palavras que valham a pena escutar. Fala-se pouco de coisas com importância. Aquela importância vital e profunda. Talvez nos apaixonemos na ilusão de escutar e de dizer algo importante, que valha mesmo a pena escutar e dizer. Talvez folheemos enamorados as páginas de um livro para encontrar o amor verdadeiro nas palavras de alguém, quando, pensando bem, elas estão todas impressas e vincadas em nós.
José Paulo Santos
Entre os ventos incertos do caos que nos rodeia, ergue-se uma prece. Não uma prece comum, feita de palavras mecanizadas, mas um sussurro que nasce do silêncio profundo do coração. É a “Prece da Ilusão do Amor”, esta que esculpi na alma, uma oração que não se curva ao desencanto, mas que se alimenta dele para reinventar o amor como força universal, fraterna, verdadeira.
Vivemos num tempo em que o amor parece resvalar entre os dedos como areias, diluído em promessas vazias, em vínculos efémeros. As ruas ecoam gritos de discórdia, os olhos evitam os olhos, e o mundo parece esquecer-se de que, no princípio de tudo, havia o amor. Mas esta prece, meu amigo, não é sobre o que perdemos; é sobre o que ainda podemos construir.
Acreditar no amor no meio do caos é, antes de tudo, um ato de audácia. Não é cegar-se à dor do mundo, mas enfrentá-la com a sabedoria de quem sabe que, por detrás de cada gesto de ódio, há uma fome profunda de ternura. É acreditar que o amor não é uma fraqueza, mas a única força capaz de curar as feridas do tempo.
Recordo-me das palavras de uma velha amiga que conheci na Tunísia. Ela disse-me: “O amor não é ilusão, mas o que fazemos dele pode ser. A verdadeira ilusão é pensar que o amor é apenas posse ou desejo. O amor é dádiva e só floresce quando nos despimos de tudo o que o aprisiona.”
Então, como reforçar em nós esta sabedoria? Como manter acesa a chama num mundo que insiste em apagá-la? Talvez a resposta resida nos pequenos gestos. Um sorriso a um estranho. Uma mão estendida a quem já perdeu a esperança. A quem amamos. Uma palavra que ecoe nos silêncios mais sombrios. Cada ato de amor é, em si, uma prece, um lembrete de que a luz ainda pode romper a escuridão.
A Prece da Ilusão do Amor não se diz apenas com palavras; ela vive nos nossos olhos quando escutamos o outro com compaixão. Ela ressoa no abraço que damos a quem julgávamos perdido. Ela vibra na coragem de amar mesmo quando amar parece inútil.
Por fim, há o amor que nos transcende, aquele que não se prende ao imediato, mas que abraça o eterno. Este é o amor que nos torna corajosos, audazes, que nos faz acreditar que, mesmo entre as ruínas, na fúria, na ira, no desespero, é possível construir algo belo. Este amor não é uma ideia, mas uma força viva, como o sangue que pulsa em cada um de nós.
Ó louco espírito do amor
Que permeias os corações e as almas
Neste instante venho a ti com humildade
Para pedir que ilumines as minhas jornadas
Que a luz da tua verdade dissipe as sombras
E que a ilusão que por vezes me envolve
Seja transformada em sabedoria
Para que eu possa amar com clareza e pureza
Concede-me a visão para discernir
Entre o amor verdadeiro e as fantasias
Que a essência do amor se manifeste
Nos gestos simples e nas pequenas alegrias
Que eu possa abraçar a vulnerabilidade
Reconhecendo a beleza de amar e ser amado
E que as lições da vida me guiem
No caminho do afeto e do carinho
Que a minha prece chegue ao coração de quem amo
E que juntos possamos cultivar a esperança
De que o amor na sua forma mais pura
É um laço eterno uma dança de almas
Assim seja, em nome do amor
Que tudo transforma e tudo cura
Que a ilusão se torne realidade
E que a vida se encha de amor e ternura.
E assim, ao cair da noite, quando o caos parecer maior do que a esperança, deixemos que esta prece se eleve em nós. Que ela nos recorde de que amar é o ato mais revolucionário que podemos realizar. Porque o amor, meu amigo, não é ilusão; ele é a verdade mais funda do universo, esperando que a reconheçamos.
E tu, ainda acreditas, reconhecendo que a vida é curta para a desperdiçar sem O Amor?
P.S. Crónica dedicada à minha filha Sofia, com amor, que hoje celebra o seu nascimento.
Professor, Poeta e Formador