Quando nascemos, a certidão de nascimento – é uma folha A4.
Começamos a conceber os primeiros desenhos/esboços – numa folha A4.
Os primeiros passos na nossa escolaridade – nesse caso não é apenas uma, mas sim – muitas folhas A4.
No tempo em que se redigiam cartas às namoradas (que saudades…), escrevíamos numa folha A4.
Começamos a ficar adultos e começam a aparecer as folhas A4, nas nossas vidas. Para isto, ou para aquilo, lá vêm as intermináveis folhas A4…
No nosso casamento, ou nos nossos casamentos (não sigam o meu exemplo…), a nossa assinatura é firmada numa folha A4.
No nosso emprego, onde normalmente o contrato tem inúmeras páginas, só a última folha A4 serve para a nossa assinatura.
Ainda bem que já se começa a substituir o papel – menos árvores abatidas – pelo digital e lá continuamos a ortografar numa folha A4.
Voltando ao digital, no écran do computador, o que vemos? Uma folha A4.
Vamos para o desemprego e lá vamos nós “tentar” o subsídio de desemprego. Onde? Numa folha A4. Se rarear a electricidade e o nosso computador estiver sem bateria, ou por qualquer outra razão e obstinar em não abrir, lá teremos que registar os pensamentos numa folha A4.
Falecemos e a certidão de óbito é passada numa folha A4.
Talvez nunca nos tenha passado pela cabeça a verdadeira importância de uma folha de 21,0 cm X 29,7 cm…
“Folha branca e vazia porque tu estás tão limpa
Se o mundo que a cerca não pára de errar
Porque mostras nas tuas linhas o início da tua origem
Ainda quando eras um ser vivo da Natureza.
Não recordas do viajante quando cansado
Que procurou em tua sombra o descanso
Não recordas das crianças a brincar pelos teus galhos nas tardes de Domingo
Não recordas que muitos frutos produziu
Não, não deves recordar, pois tua existência foi muito curta
Ele chegou com fúria devastadora, como todo o ser humano egoísta
Com suas máquinas insaciáveis avançando sobre a floresta
E lá estava você frondosa a cobrir teus galhos grande parte da relva húmida
Deitaste e sofreste
Lançaram-te em máquinas e líquidos, triturando-te e reduzindo-te a pequenas partes
Até chegar onde estás presa entre outras folhas
E a ti só posso dizer, perdoa-me, nós humanos não sabemos
que a destruição maior está para vir
E a história está escrita em você folha branca ainda vazia”.
Francisco Albano Boscatto
Músico/Colaborador