9.8 C
Porto
16.4 C
Lisboa
20.9 C
Faro
Domingo, Junho 15, 2025

A nossa carta é insubstituível…

Adoro escrever cartas! Nada se acareia a uma carta, não existe nenhum suporte digital que consiga mutuar e permutar uma carta!

Mais artigos

…tocar no papel e o inalar, ler duas três vezes seguidas e guardá-la naquela caixinha que só nós conhecemos!… Passados muitos anos, no aconchego e agasalho do calor da lareira, abrir de novo a caixinha e lá está ela, a nossa carta, aquela que só duas pessoas a conhecem, quem a escreveu e quem a recebeu e guardou com afeição,  com desvelo e idolatria.

Agora quem a escreve? O processo inicia-se com a escolha do papel e do envelope. Depois a cor da tinta, azul ou preto…

Tudo pronto? Necessitamos de um lugar eremítico, ou que o resto da família se acalente, para sem intromissões algumas nos podermos concentrar e assim, podermos abrir o nossos coração, sem receios e colocarmos no papel verdadeiramente o que nos vai na alma. E o que nos vai na alma? Se falarmos do coração, vamos rasurar o quê? E porque razão…“O coração tem razões que a razão desconhece…”.

Lemos duas, três vezes e de seguida, dobramos as duas folhas e vamos criteriosamente guardá-la numa caixa que apenas nós sabemos onde está, este é o nosso segredo.

Ao fim de dois ou três dias a ansiedade apodera-se e começamos a ir diariamente à nossa caixa de correio em busca da resposta à nossa carta. Mas a carta não surge…

Escusa-mo-nos a perguntar a quem foi endereçada se sempre a recebeu, aguardamos mais uns dias e finalmente, aí está! Tentamos abrir rapidamente o envelope, enquanto subimos as escadas e até tropeçamos no último degrau…Corremos para o nosso quarto – nosso tegúrio e reduto, e aí sentados na nossa cama que tão bem conhece os nossos segredos e os nossos anelos e finalmente, os nossos ávidos olhos percorrem as duas folhas que nunca anteriormente se sentiram tão expressamente olhadas… O coração acelera, na medida em que as palavras acordam os nossos sentimentos e até titubeamos nos últimos parágrafos, tal o ofego  de terminarmos.

Vamos beber um copo de água e relaxar algumas tensões e apertos ainda acumulados e voltamos à nossa carta. Agora mais devagar e com algumas paragens e até podemos “enlaçar e cingir” a nossa carta, ou não… Esta é a nossa CARTA! Não a do primo, ou do vizinho, esta foi redigida para nós e a mais ninguém diz respeito… Podemos relê-la cada vez que quisermos, não estamos reféns de algum corte de eletricidade, de um computador, ou telemóvel, o “perfume” desta carta está no nosso regaço e ficará para sempre, gravado no nosso coração.

Passaram-se anos e ao abrirmos a nossa caixinha, a caixinha dos nossos segredos, inalamos o perfume da nossa carta e uma lágrima solta-se dos nossos olhos, pois quem a escreveu, já não está entre nós…

- Publicidade -spot_img
- Publicidade -spot_img

Artigos mais recentes

- Publicidade -spot_img