As cidades e as sociedades foram, ao longo dos séculos, palco de inúmeros processos de transformação, onde se construíram/desenharam modelos urbanísticos – uns mais utópicos que outros – e se procurou, na ciência e na tecnologia, formas de energia mais limpas, que dessem resposta aos inúmeros problemas de poluição que iam surgindo e que colocavam em causa a qualidade de vida das cidades.
No entanto, nem sempre a evolução dos modelos urbanísticos e da tecnologia andaram em uníssono e/ou foram compagináveis com as necessidades reais da população.
Se expandirmos o nosso olhar sobre a cidade atual, verificamos que esta se encontra dispersa por um território cada vez mais vasto, onde a diferença entre o rural e o urbano já não é bem percetível por quem o percorre. Onde os vazios intersticiais desconexos e ausentes de qualquer legibilidade são cada vez mais frequentes. Onde os espaços de convívio/lazer e de equipamentos localizam-se nas periferias, cada vez mais desordenadas. Onde uma cultura periurbana e rururbana se começa a desenhar, miscigenada em relações de vizinhança, cada vez mais distantes (porque apoiadas pela mobilidade do automóvel individual). Onde o desconforto, a sinistralidade, o ruído causado por estes veículos a combustão, é potenciado por vias ora estruturantes ora secundárias, implementadas com perfis que se confundem devido, muitas das vezes, a licenciamentos de intervenções urbanísticas desenquadradas da envolvente.
Pelo avolumar destes problemas, associados ao aumento da poluição atmosférica e à desregulação da economia, no que concerne, designadamente, aos combustíveis fosseis, urge a tomada de medidas ao nível da conceção e “economia verde” das cidades.
Verificamos, no entanto, que ao nível da ciência e da tecnologia já se foram dando alguns passos, mas ao nível do ordenamento do território poucas são as cidades que tomam medidas estratégicas (no sentido de transversais), verificando-se sim, uma ou outra medida pontual. É, portanto, necessário um olhar cada vez mais atento por quem nos governa e concebe a cidade, onde o problema da mobilidade sustentável e socialmente responsável seja, de fato, analisado.
Segundo a World Business Council for Sustainable Development, o conceito de mobilidade sustentável é a capacidade de dar resposta às necessidades da sociedade em deslocar-se livremente, aceder, comunicar e estabelecer relações, sem sacrificar outros valores humanos e ecológicos, hoje e no futuro.
Este conceito está pejado de objetivos estratégicos, que deverão ser transmutados para propostas exequíveis e tecnicamente viáveis, ao nível de custos de implementação e sua posterior manutenção.
As propostas deverão recair sobre a integração dos problemas de transportes no seio do ordenamento do território; sobre a criação de redes pedonais e clicáveis que liguem pontos de referência da cidade, porque identificáveis com o léxico cultural local, atribuindo uma especial atenção aos percursos “alternativos” que liguem escolas a equipamentos, garantindo, assim, as ideais condições de segurança e de conforto; sobre a promoção de modos suaves e de transportes coletivos que aufiram da necessária flexibilidade horária e itinerária, coadunável com as atuais exigências da sociedade e da cidade; sobre medidas de auscultação à população que auxiliem, em simultâneo, à sua sensibilização e ao arrecadar da informação tão necessária à tomada de decisões técnico-políticas.
Assim sendo, podemos concluir que temos um longo caminho a perscrutar, que deverá ter em conta as diferentes etapas que vão desde a devida auscultação à população, ao delinear de estratégias e propostas de intervenção urbanísticas devidamente orçamentadas; caso contrário, teremos em mãos uma panóplia de medidas avulsas, que mais não fazem do que delapidar as contas e a moral pública.
Urbanista