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Domingo, Março 16, 2025

A machista feminista

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Sónia Aguiar
Sónia Aguiar
Advogada/Mestre em Direito

Era um dia de trabalho como outro qualquer. Como já é hábito, fizemos uma pausa nas nossas tarefas muito importantes para ficarmos um pouco na amena cavaqueira. Já não recordo o tema da conversa, mas, a dada altura, um dos meus colegas diz-me: “A Dra. é uma machista feminista!”

Sem conseguir conter o riso, perguntei: “Como é que é? Ora explique-me lá isso…”
O meu interlocutor respondeu: “A Dra. tem uma visão muito tradicional do papel da mulher na sociedade e na família e posiciona-se bem nesse conceito. No entanto, é uma mulher livre, que construiu uma carreira, que faz o que quer, quando quer e não deixa que a impeçam.”

Ri-me. A análise está mais ou menos correta. Quem lida comigo diariamente já se habitou ao meu estilo excêntrico e ultra feminino de vestidos com laços e folhos e sapatos de salto alto que contrasta com o rosto limpo de maquilhagem. E também já poucos se surpreendem com a minha assertividade (por vezes de cortar à faca) com a contrastante postura, sempre sorridente, mas quieta e discreta.

No entanto, e para o que aqui importa, o que releva é: estamos perante uma dualidade ou um ponto de equilíbrio perfeito entre opostos?

Estamos todos habituados desde a infância à ideia (errada a meu ver) de que não podemos ter tudo. Mas  quem diz que não podemos? Porque é que temos que caber em “caixinhas” rotuladas disto ou daquilo, todos predestinados a sucesso ou perda conforme a nossa “casta” de origem ou mediante a “caixinha” em que nos metemos ou alguém nos meteu?

O que é que nos impede de, com elegância e graça, conciliarmos o melhor de todos os mundos, consoante o que melhor nos serve?

Pensei em referências culturais que melhor ilustrem este ponto de vista. Lembrei-me de Débora (Débora (juíza) – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) ). Esta mulher viveu por volta do século XII A.C. numa sociedade marcadamente patriarcal, era casada, mulher e mãe e, não obstante, foi a quarta juíza a liderar as doze tribos de Israel. Ela foi a única mulher a desempenhar essa função na história de Israel. Função essa que era bem complexa, diga-se. O seu papel era de profetiza, juíza, líder político e de apoio à liderança militar. Sem dúvida, que nos dias de hoje esta mulher também seria uma machista feminista por conseguir, reunir em si, o melhor de tudo.

Chamo também aqui à colação o texto bíblico de Provérbios 31. Aqui a resenha é igualmente fácil de fazer: uma mãe a ter uma conversa de “pé de orelha” com o seu filho, homem solteiro e jovem prestes a subir ao trono e a tornar-se rei. Esta mãe tem a coragem de balizar ao filho as características que a sua futura nora (ainda por escolher) deve ter: nada mais e nada menos ela deve ser a mulher virtuosa, aquela que concilia trabalho fora de casa com o de dentro de casa, que tem o seu próprio património e o gere por si própria, que faz voluntariado, ajudando os outros, que é mãe, que é patroa e, acima de tudo, que tem vida própria e não precisa de “melgar” o marido. Sem pressão nenhuma, certo? Mais uma para o rol da machista feminista.

Penso que seria mais ou menos isto que a Chaka Khan tinha em mente quando cantava – -“I’m every women, it’s all in me – concordam?
Em conclusão fica isto: não temos que ser isto nem aquilo; podemos ser tudo o que quisermos, desde que dispostos a pagar o preço e assumir a responsabilidade inerente e isto, meus amigos, é válido para mulheres e para homens.






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