Hoje, em terras de sua majestade, o Cavaleiro pelos bons ofícios prestados ao seu país saiu de cena, ao deixar a representação após mais de sete décadas de entrega e dedicação àquela arte.
Aos noventa anos de idade, e tendo sempre o mesmo adiado a sua pretensão, é com arte que também o mesmo se afasta dos palcos, retirando-se após a recente estreia do último filme em que participou, “The great escaper”, rodado com a já falecida, Glenda Jackson. Traços gerais, neste registo filmográfico, interpreta o veterano da Segunda Guerra Mundial, Bernie Jordan, que fugiu de um lar de idosos para assistir às celebrações do Dia D, em França.
Michael Caine seguiu possivelmente as pisadas do seu compatriota William Shakespeare – considerado o maior dramaturgo do mundo – após muito falar que se iria reformar. Dizia, assim, também aquele escritor que “falar não é fazer, por mais que haja uma boa intenção. As palavras não são fatos”.
E agora foi de vez….
Fica uma extensa filmografia, onde o mesmo apareceu em mais de 160 filmes, incluindo dois Óscares, um BAFTA, três Globos de Outo e um Screen Actors Guild Award, mesmo sendo tal distinta personalidade marcada pelo seu sotaque caraterístico de Cockney, tradicional da classe baixa londrina e classe trabalhadora, desde o século XIX.
Para além dos dois Óscares nos seus papéis como Elliot na comédia Hannah and Her Sisters (1986), de Woody Allen, e como Dr. Wilbur Larch no drama de Lasse Hallström The Cider House Rules (1999), quem não se recorda do mesmo em outras performances notáveis na trilogia Batman de Christopher Nolan, Dressed to Kill, Mona Lisa, Harry Brown e Youth.
Mas voltamos à importância da retirada. Ter a consciência de que é chegada a hora de partir para outras paragens, ou apenas fechar um ciclo, é um dos maiores bens que podemos fazer a nós mesmos e a quem temos por perto e amamos, assim como nunca descortinando um ato de coragem.
Trata-se assim de saber aceitar, onde a passagem do tempo carrega consigo muito do que achávamos ser eterno e imutável, obrigando-nos a despedir de muito daquilo que relutávamos em deixar para trás. E dar este passo, ao fechar um ciclo, o próprio ato de saber a hora de sair de cena, no palco e na vida, demonstra que tudo de bom se eterniza onde existiu verdade e amor.
E digamos, neste caso específico, muito amor houve por parte daquela singularidade àquela arte…
* Este artigo teve a colaboração de Catarina Pignatelli – (Psicóloga e Investigadora)
Advogado, Psicólogo e Investigador Universitário