Durante várias décadas, fui assistindo às mudanças (algumas drásticas e escusadas) do sistema de ensino em Portugal. Lembro-me do livro da quarta classe do meu avô e ficava atónito com a quantidade e qualidade do material exposto. É lógico que não concordo com a obrigatoriedade de sabermos as linhas de comboios de Angola e Moçambique, mas quem terminasse a quarta classe com muitos conhecimentos, empacava. Uma coisa é certa, todos sabiam escrever bem o português e todos sabiam fazer bem contas (somar, subtrair, multiplicar e dividir)!!!
Quando ingressei na primária, tive o azar de um professor detestável que nos batia com uma régua, pela qual, a maior parte das vezes, o almoço ficava nas pedras da calçada no caminho para a escola. Entrei para a Escola Industrial Machado de Castro revoltado com a escola e com o facto de não ter uma situação financeira melhor, pois nesse caso teria concorrido para o liceu Pedro Nunes. Assim passei cinco anos da minha vida a frequentar um curso de mecanotecnia (de nada me serviu), com disciplinas estúpidas e a ser obrigado a limar um cubo de metal, até à exaustão… Depois de terminar o curso, ainda assisti a algumas aulas pela televisão, mas rapidamente a música falou mais alto!
Aos vinte e um anos – ainda na tropa –, tive a minha primeira experiência como professor de música, foi um desastre! Deixava os alunos fazer o que lhes apetecia e fiquei rouco de tanto mandá-los calar… Troquei de escola e de comportamento. Os meus (novos) alunos gostavam das minhas aulas e, muitas vezes, outros que não tinham tido aulas, pediam para assistir. Foi uma óptima experiência, até um dia ser chamado ao Conselho Directivo! Fui criticado, por ter pedido aos meus alunos, para recortarem imagens, de revistas de música, dos grupos com os quais mais se identificavam, colarem as imagens numa cartolina, com a devida legenda escrita por eles e assim enfeitarem as paredes brancas e vazias da nossa sala de aulas.
O argumento: Estava a induzi-los e encaminhá-los para o rock, vejam bem! Eu na altura tocava no Quinteto de Maria João (jazz)… No final do ano lectivo, ensaiei com os meus alunos, convidei um guitarrista (guitarra eléctrica) e um baterista e comigo no baixo demos um show e pêras!!! Com os meus alunos a cantarem as canções que tinha escrito para eles e, mal terminou, vieram os do Conselho Directivo, darem-me os parabéns! Era tarde demais, já tinha decidido que seria o meu último ano como professor… Ainda bem que a minha teimosia abrandou e voltei a dar aulas.
Por essa altura, na Escola do Feijó, o Ministério da Educação, lançou uma lei estúpida! Pediam aos professores para não corrigirem os testes a vermelho, pois essa cor era traumatizante para os alunos… Como? É tentarem encaixar os “Piagets”, que me desculpe o autor, num país onde as necessidades básicas estão muito longe de serem cumpridas… Com fome, violência e lares desfeitos? É a cor vermelha que vai traumatizar?…
Sabem porque nasceu e onde explodiu o hip-hop? (afinal estás a escrever um livro, ou estás a fazer um inquérito aos teus leitores, se é que os vais ter…)
O hip-hop nasceu (à sexta-feira com barba e cabeleira).
– Posso, Mind?
Nasceu nas ruas de Harlem (comunidade negra) e não é mais do que uma escola de rua… Senão vejamos: MC (português), Graffiti (educação visual), DJ (música) e Breakdance (educação física).
Sabem porque a escola é uma chatice? (mais inquéritos…)
É uma chatice para os professores, porque são obrigados a aturar meninos mal-educados e pais ainda mais mal-educados…, é uma chatice para os alunos, porque os professores dão matérias que não os incentiva, e é uma chatice para os funcionários (já perceberam a crise nesse sector…), porque têm que aturar os meninos mal-educados, os pais mal-educados e os professores chateados e sem motivação! Depois há a “guerra” dos livros e das matérias que em pouco tempo ficam desactualizadas e fora de uso… E os pais que gastem mais dinheiro em novos livros, porque livro do irmão de doze anos, não serve para a irmã de dez…
E os políticos? Têm culpa no cartório?
Muda-se de governo e por que razão tem que se mudar de sistema de ensino?
A Educação e a Cultura não deveriam NUNCA ser afectadas pelos governos.
Como diz, e bem, Agostinho da Silva – convidavam-se nove (ou outro número ímpar) dos melhores matemáticos portugueses, eles em retiro profissional elaboravam um programa desde o primeiro ano até ao último ano da faculdade. Esse programa deveria ser testado durante três anos, findo os quais seria feita uma avaliação, para que fossem introduzidas as alterações necessárias. Simples! Afinal quem sabe de matemática? Os políticos, certamente que não, caso contrário, não erravam tanto as contas nos orçamentos de estado…
Músico