Esta data deve-se à homenagem a prestar às irmãs Tereza, Mirabel, Patrícia e Minerva que foram presas, torturadas e assassinadas em 1960, sob as ordens do ditador da República Dominicana, de nome Rafael Trujillo. As irmãs tornaram-se assim num símbolo mundial da luta contra a violência das Mulheres.
Lamentavelmente, nos dias de hoje, em média, uma em cada três Mulheres foi vítima de violência doméstica, física, psicológica ou sexual, por parceiro íntimo ou não parceiro ou ambos, pelo menos uma vez na vida.
Na maioria das vezes, a violência contra as Mulheres é letal, sendo mortas globalmente, cerca de 200 Mulheres, pelos seus parceiros íntimos ou não íntimos, todos os dias.
Acontece que, o isolamento social, a insegurança económica e a vulnerabilidade intensificam o aumento da dependência e da submissão da Mulher ao parceiro, sujeitando-se a todas as formas de violência doméstica.
Resulta do dano físico ou psicológico (este o mais gravoso), incluindo ameaças, coação e privação arbitrária de liberdade, seja na vida pública ou privada.
A violência contra as Mulheres tem elevada relevância e reflete-se na saúde e uma vez que viveram tal flagelo apresentam mais distúrbios e patologias físicas e mentais, utilizando algumas delas os serviços de saúde com maior frequência do que aquelas que não viveram essa triste experiência.
Normalmente, as consequências que essas Mulheres apresentam são do foro do seu desenvolvimento pessoal, designadamente as doenças de ocorrência tardia como a hipertensão, colesterol elevado, artrite e problemas cardíacos.
Na verdade, as marcas de agressões físicas vivenciadas pelas Mulheres revelam um sério sofrimento moral que traz, por sua vez, implicações de ordem psicológica e emocional.
Ademais, o acumular do sofrimento e a dificuldade, o medo e o receio em exteriorizar os seus problemas vivenciados com o seu parceiro refletem-se não só na saúde física mas também e mais grave na saúde emocional e psicológica, que leva ao uso de álcool e de drogas, à depressão, ansiedade, tabagismo, autoflagelo, distúrbios na alimentação e no sono e, por vezes, até ao suicídio.
A violência doméstica nas Mulheres é um problema transversal na nossa sociedade, independentemente do status social ou económico e que está muito aquém de se colmatar, devido às mentalidades e aos parcos valores/princípios da sociedade.
Isto posto, qualquer um de nós pode contribuir e combater a violência doméstica contra as Mulheres, denunciando o agressor da violência doméstica, como crime público que é.
Assim sendo, dê o seu contributo na eliminação e no combate das variadas formas de violência contra as Mulheres e não compactue com o silêncio e cumplicidade ou omissão. Denuncie e trave a violência contra as Mulheres.
Penso que ainda há um longo caminho a percorrer, obstáculos a ultrapassar e um árduo trabalho a realizar no apoio, acompanhamento e na proteção da vítima. Há que promover sistematicamente oficinas, grupos de discussão, cursos/debates/conferências ou outras atividades de capacitação e atualização dos profissionais, recurso a profissionais no terreno, nas diferentes áreas de atuação que vivenciaram “in locus” e na sua pessoa esse triste flagelo (“só sabe e sente quem passou por elas”).
A sociedade deve refletir e ser sensível à problemática social respeitante às Mulheres, tendo em conta o aumento significativo de casos de violência doméstica.
Indubitavelmente, que a existir violência doméstica sobre as Mulheres, essa iniciou-se já no namoro e que se desvalorizou, indevida e lamentavelmente, por desconhecimento, dependência, insegurança, medo, desculpabilização, cegueira do amor ou ainda e mais grave, por se julgar que esse comportamento e atitude nada mais foi do que um “verdadeiro ato de amor” do parceiro.
Ora, a violência sobre as Mulheres não é um problema de Mulheres, é um problema sério que tem de ser encerrado e encarado como um dos crimes mais cometidos nos dias de hoje. Trata-se de uma realidade mascarada, com muitos preconceitos, rótulos, medos, tormentos, mágoas, ansiedades, sofrimentos, dores, perdas, distúrbios, represálias, vergonhas e receios.
Diariamente, ouço, apoio, acompanho e defendo vítimas que sofreram e ainda sofrem em silêncio, sentem-se anuladas, vivem sem esperança, já consumidas pela dor, humilhação, sofrimento, ansiedade, depressão, medo, angústia, sem forças para lutar pela sua paz e liberdade; e acima de tudo, de não serem consideradas, vistas e tratadas como Mulheres que são. Mulheres estas que receiam denunciar o agressor, quer por medo, vergonha, quer por represálias e falta de segurança que sentem no decorrer do processo-crime; vivem seriamente a eles atormentadas e acorrentadas, vivem sob estado de alerta e de vigilância permanente, face a um possível ato de loucura por parte do parceiro: o homicídio.
A eliminação da violência contra Mulheres é um processo duro, árduo, moroso, trabalhoso, desgastante e violento, pois as desculpas perante o que o agressor lhes fez e disse foram e são muitas e não tem desculpa. Ser muda e submissa não é opção.
Não seja cúmplice de um crime, nem omita a violência contra as Mulheres.
Denuncie e diga: Stop violência contra as Mulheres!
(S) EM SILÊNCIO!
Advogada / Responsável pelo projeto StopViolênciaContraMulheres